Como viver numa sociedade sem violência? Está cada vez mais difícil, mas já existe uma metodologia com técnicas que permitem melhorar o ambiente em que vivemos, seja na vida pessoal ou profissional. A Comunicação Não Violenta, afinal discordar não significa necessariamente discutir.
Saiba mais sobre esse tema com a psicóloga Maria Ângela Rossetto, entrevistada de Cintia Yamamoto, Fundadora da Estilo 5.0+.
Vamos relembrar o perfil da Maria Ângela Rossetto:
Psicóloga Clínica há 35 anos, com Mestrado na Escola Paulista de Medicina em Distúrbios da Comunicação. Prof.ª Titular há 30 anos das cadeiras de Psicopatologia, Psicologia do Desenvolvimento Humano e Método de Rorschach na Unfmu e atualmente na Unifesp. Perita nomeada na Vara da Família do Fórum de Santo Amaro e Avaliadora de Cursos de Psicologia pelo INEP e com vários Trabalhos publicados em Congressos Nacionais e Internacionais.
Entendendo um pouco sobre a Comunicação Não Violenta
No mundo todo a intolerância e a falta de disponibilidade para ouvir o outro aumentaram muito.
Aqui no Brasil, as discussões envolvendo política trouxe muita polarização e aumentaram muito os distúrbios mentais. Até nos lugares religiosos onde as pessoas iam buscar algum conforto também sofreram esse efeito, comenta Maria Ângela.
A Comunicação Não Violenta é uma metodologia que pode ajudar nesse momento tão conturbado. Ela surgiu no início dos anos 60, durante o auge do movimento a favor dos diretos civis e contra a segregação racial nos Estados Unidos. Importante destacar o papel do psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg branco, que lecionava para alunos negros. Ele foi orientador educacional em instituições de ensino que eliminavam a segregação.
O papel de Rosenberg, durante essa conturbada transição, era ensinar mediações e técnicas de comunicação. Naquele momento ele criou o método da Comunicação Não-Violenta (CNV). É uma comunicação clara e direta, detalha Maria Ângela e acrescenta:
“Em comunicação nós temos que entender não somente a linguagem falada, mas também a linguagem corporal e facial, que mostram muito mais do que a linguagem falada. Prestar atenção na pessoa, em como está sentada, em como está mexendo com as mãos. Pessoas que ficam mexendo no cabelo toda hora e no seu olhar. O olhar é aquela coisa que desde pequenininho a gente já reconhece no olhar da mãe. Se ela está brava, se ela está triste, se ela está feliz.”
Mari continua: então como que os olhos falam, não é? É um conjunto de informações incluindo a roupa que a gente está vestida que traduz alguma coisa sobre a pessoa.
Características de uma comunicação não violenta
Maria Ângela explica que a Comunicação Não Violenta tem dois eixos:
- Empatia, que é você saber se colocar no lugar do outro
- Autenticidade, que é saber dar a respostas de maneira respeitosa. Procurar dentro de si falar o que está sentindo, sempre respeitando o outro.
A Comunicação Não Violenta é baseada em 4 componentes que temos que observar. O primeiro é a escuta e a observação ativa. Observar, sem julgamento e sem rotular. O que é difícil, porque quando ouvimos o que outro está falando já achamos que sabemos onde ele quer chegar e nem ouvimos até o fim.
Há uma matéria em psicologia que se chama Observação de comportamento onde a pessoa passa um ano só descrevendo sobre comportamento e exemplifica:
Se comentarmos sobre “uma mulher de vestido verde sentada num banco num jardim, isso é observação. Se falarmos que é uma mulher de vestido verde sentada num banco de jardim com cara de triste, já é um julgamento”.
Observar e não julgar é um treinamento constante. É difícil. Uma técnica pode ser enquanto a pessoa está observando e ouvindo pode fazer perguntas para ficar mais claro. Maria Ângela dá um exemplo:
“Quer dizer que você não foi fazer a prova porque você ficou dormindo? ” Repetir o que a pessoas falou para se certificar.
Ela diz que a pessoa também deve prestar atenção aos seus sentimentos. Que sentimento surge a partir daquilo que a pessoa falou e fez.
Segunda característica é se conhecer bastante e nomear os sentimentos. Estou sentindo desprezo, estou sentindo medo, estou sentido raiva, estou impaciente. Precisa nomear os sentimentos porque muitas vezes não sabemos definir e é importante porque se reconheço o meu sentimento, vejo qual a minha necessidade.
Essa é a terceira característica da Comunicação Não Violenta; que necessidade tenho naquele momento. Como posso comunicar essa necessidade. Então é refletir. E aí vem o pedido. Pedir, não é mandar.
Quarta característica, pedir sem fazer juízo de valor. Não é assim: “Você é muito preguiçoso. Então queria que você fizesse isso”. Você vai ser assertiva, vai falar o que você quer, mas respeitando o outro. “Quero te ajudar, mas sinceramente você tem que me falar o que está acontecendo”. Por isso que é importante fazer as perguntas na fase de observação e expressar o pedido.
A Comunicação Não Violenta, muda o ambiente, muda as relações interpessoais. Não vai agredir e também não vai entrar numa discussão quando ela sabe que vai sair briga.
No limite, explica Maria Ângela, você pode até xingar uma pessoa e não ofender, mas na escrita é difícil. Você está sem a entonação e sem a sua expressão. E os mais jovens, se comunicam de uma forma abreviando tudo.
O Rosenberg criou a Comunicacão Não Violenta baseada nos ensinamentos de Gandhi (ahimsa, a não-violência) e nos discursos do Martin Luther King para promover a paz.
Não é que todo mundo sempre vai conseguir. Vai haver momentos que há descompensações. Mas é comunicação muito eficaz, no ambiente de trabalho, no ambiente escolar, nas relações familiares.
Como desenvolver essa Comunicação Não Violenta
O primeiro passo é querer. Há cursos de Comunicação Não Violenta, há livros, também pode procurar como comunicação mais assertiva.
O treinamento na atenção precisamos aprender a focar. A atenção deve ser totalmente dirigida para com quem a pessoa fala: não pode ficar dispersa. Prestar atenção na postura, no tom de voz, e saber se controlar.
Mas quando a pessoa é violenta com ela mesma é difícil ter uma comunicação não violenta. Por exemplo, se ela é uma pessoa que olha no espelho e fala: “que horror que eu estou”. Nenhuma roupa fica bem em mim. Acho que sou a única pessoa que trabalha desse jeito”. Quando ela está assim, se auto agride, é difícil se colocar no lugar do outro, comenta Maria Ângela.
Nos cursos de psicologia, quando uma pessoa está chorando porque tem câncer, você tem que tratar igual a uma pessoa que está chorando porque cortaram o cabelo do cachorro dela. Você tem que respeitar isso. Tem alguma coisa atrás de cada um dos motivos. Dar importância para tudo o que o outro está falando. Reconhecer a necessidade do outro. Reconhecer que ás vezes nem precisa falar, só o fato de ouvir, olhar para a pessoa, balançar a cabeça e olhar para ela, já estás mostrando que está se importando com ela, que está com ela ali. E não ficar no celular, olhando de um lado para o outro, mostrar que você está ali com a pessoa, recomenda Maria Ângela .
As pessoas maduras dão menos importância à Comunicação Não Violenta?
Maria Ângela defende que dar mais ou menos importância a Comunicação Não Violenta tem a ver com a personalidade mas salienta que as nossas características se acentuam 10 vezes com a idade.
Se a pessoa já era agressiva, isso pode se acentuar. “Na minha idade, eu falo o que eu quero”. Ela entende que isso é falta de educação, na idade que for. Não se pode falar o que quer.
O que pode acontecer, é que a pessoa que está doente, ou com uma doença degenerativa, perde a censura. E aí fala qualquer coisa. Aí vc tem o idoso que já sofreu algum derrame, perde a censura. Mas aí não é ele, é a doença dele. E também não depende do nível educacional. Às vezes você tem uma pessoa simples, analfabeta que é extremamente gentil para falar e as vezes você tem um livre-docente que chama os alunos de burros.
Então tem muito a ver com a personalidade. É importante trabalhar e reconhecer a sua dor e não jogar para o outro. É um treino violento.
As redes sociais podem contribuir negativamente para a comunicação violenta?
Maria Ângela entende que as redes sociais podem piorar muito a comunicação violenta. Ela mesma tem sido testemunha de agressões verbais e discussões em grupos de familiares e amigos. E ninguém quer falar sobre política.
Não ter espaço para conversar e colocar de pontos de vistas diferentes não é saudável. Maria Ângela coloca que a gente tem que ter em mente que as pessoas podem pensar diferente da gente. Se a conversa for uma troca de ideias, é saudável. Mas muitos participam de uma maneira muito agressiva.
Uma das principais características do brasileiro sempre foi ter flexibilidade. Por exemplo, assistir a missa e depois ir ao centro espírita. Tudo bem. Mas agora parece que perdemos essa preciosidade que tínhamos anteriormente, comenta Maria Ângela.
No contexto atual, ninguém cresce e cada um fica no seu quadradinho. E com as fakenews piorou muito. Você não sabe se é verdade ou mentira.
É muito importante pesquisar as fontes de informação sempre que tivermos dúvidas.
Dicas para praticar a Comunicação Não Violenta
Maria Ângela detalha várias dicas para praticar a Comunicação Não Violenta:
Em primeiro lugar: não julgar, não rotular. Exemplo: você é um mentiroso. Melhor dizer: você não está dizendo toda a verdade.
Não comparar a pessoa com outra: Exemplo: Tem gente com mais problemas que você e faz muito mais coisas. Demonstra que você não está atenta ao problema do outro.
Muito cuidado com o tom da voz. Maria Ângela comenta que muitas vezes quando um esquizofrênico começa a gritar com a gente, diminuímos o tom de voz mas falamos firme. Isso vale para qualquer pessoa. Pode falar para a pessoa: não converso nesse tom ou abaixe o tom de voz.
Cuidado com o vocabulário: que não seja muito rebuscado em situações informais. Você tem que adequar esse vocabulário. Há pessoas que falam muitos palavrões, chega a incomodar. Tem momento certo, tem local certo.
Explicar as suas necessidades com clareza: Ao invés de “Preciso de um relatório.” Algo como “Preciso de um relatório para o dia 20. Mas preciso que você entregue antes para eu ler. Por favor, vc faz isso?”
Usar por favor, obrigada, desculpa.
Olhar nos olhos, falar o nome da pessoa: chama para uma intimidade e uma aproximação maior. Olhar também a maneira como você está andando, como você está se vestindo.
Maria Ângela comenta sobre as famílias não se comunicarem. Olha nas mesas de dos restaurantes com a família inteira no celular: mãe no celular, pai no celular, filho e filha no celular. Ninguém conversa.
E a discussão é muito importante: são momentos que posso tratar de temas mais diferentes. Ela comenta que na casa dela sempre falaram sobre diferentes assuntos; droga, sexualidade, etc.… é importante e é o momento em que todos podem conversar e discutir, sem briga.
Não desgastar a sua energia com aquele tipo de conversa que às vezes não vale a pena.
Livro comentado pela Maria Ângela:
Emocionário: Diga o que você sente. Autores: Cristina Núñez Pereira e Rafael R. Valcárcel.
Contato com a Maria Ângela Rosseto: através do e-mail: mac_rossetto@hotmail.com
Assista o bate papo integral da Fundadora da Estilo 5.0+, Cintia Yamamoto, com o Psicóloga Maria Ângela Rossetto. Acesse:
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