Etarismo, Idadismo ou Ageismo, significa preconceito por idade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ageismo se refere “aos estereótipos (como pensamos), ao preconceito (como nos sentimos) e à discriminação (como agimos) dirigida a pessoas com base em sua idade”.
No Brasil, tivemos um número recorde de informalidade em 2022 que dá dimensão da dificuldade por essa população mais madura, diante do preconceito etário.
Conforme dados do Observatório dos Direitos Humanos (ObservaDH), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), em 2022, o país registrou um recorde de 4 milhões de pessoas com mais de 60 anos trabalhando na informalidade. Se considerarmos os maduros acima de 50 anos, este número é muito maior.
Este número representa um aumento de 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado e um crescimento significativo de 36,6% desde o início da pandemia, no segundo trimestre de 2020. A informalidade atinge pessoas que perderam empregos formais, nunca tiveram carteira assinada, ou se aposentaram e retornaram ao mercado de trabalho para complementar a renda.
Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, destaca a questão pela perspectiva do etarismo, que é um dos principais preconceitos que dificultam o acesso dessa população ao mercado de trabalho formal. O aumento na informalidade entre os trabalhadores mais velhos também pode ser atribuído a crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, que levou muitas pessoas a garantirem renda na informalidade.
Experiências reais e impactos sociais
Para muitos maduros, a informalidade representa não apenas uma necessidade financeira, mas também uma forma de se manterem ativos e socialmente engajados. É o caso do professor Maurício da Silva, popularmente conhecido como professor Maurício, que mesmo aposentado, continua a lecionar. “Exerço o papel de professor em cursinhos e, mais frequentemente, em aulas de reforço. É um trabalho que me dá muito prazer e compensa um pouco da defasagem do meu benefício”, reconhece.
Aos 74 anos, Maurício enfrenta desafios comuns a muitos maduros no mercado de trabalho. “Eu não tenho mais acesso ao emprego formal devido à idade. Depois dos 40 anos, criou-se um entendimento conjuntural de que o homem não é aproveitado pela sua experiência”, lamenta. O professor destaca ainda o preconceito que enfrenta diariamente: “Quantas vezes ouvi, indiretamente, nos coletivos que um velho está ocupando o lugar de jovens. A sociedade acha que velho é descartável”, desabafa.
Apesar dos desafios, Maurício mantém uma atitude positiva e proativa. “O trabalho, ao contrário, me ajuda e me fortalece. Tenho um compromisso com a minha profissão e com a minha honradez, tanto que estou correndo atrás de aprender a usar o computador e o celular. A inteligência artificial me assusta um pouco, mas tenho esperança. Quem não acompanhar as tecnologias fica a reboque”, alerta.
A diversidade etária tem se mostrado crucial no cenário atual do mercado formal, não apenas como um valor moral, mas como um impulsionador de inovação e produtividade
Mórris Litvak, CEO e fundador da Maturi, reforça que essa diversidade é fundamental porque promove uma troca rica de experiências e perspectivas. “Combinar a energia e a inovação dos mais jovens com a sabedoria e a experiência dos mais velhos cria um ambiente mais equilibrado e inovador, onde todos aprendem uns com os outros, resultando em soluções mais robustas e criativas”, acredita.
No entanto, ele ressalta que existem desafios significativos a serem superados, como o preconceito etário e a resistência à mudança. “Muitas vezes, há uma percepção equivocada de que profissionais mais velhos não conseguem acompanhar a evolução tecnológica ou são menos produtivos, o que não corresponde à realidade”, rechaça Litvak.
Para promover uma cultura de inclusão etária, o especialista sugere algumas estratégias práticas, como a adoção de políticas de recrutamento inclusivo, programas de mentoria reversa e oferecer treinamento contínuo. “Além disso, é crucial criar uma cultura organizacional que valorize a experiência e ofereça oportunidades de desenvolvimento para todas as faixas etárias”, sugere, ao vislumbrar um futuro promissor para a diversidade etária nas empresas.
“Vejo um futuro em que equipes intergeracionais serão cada vez mais valorizadas. Tendências como programas de requalificação e políticas de trabalho flexível para profissionais 60+ estão em ascensão, refletindo uma maior conscientização sobre os benefícios dessa diversidade”, concluiu o especialista.
“Grey Washing”
Muitas empresas adotam uma postura conhecida como “Grey Washing”, ou Green washing social: tentam disfarçar o preconceito contra pessoas mais velhas. As empresas usam uma linguagem positiva sobre diversidade e inclusão, mas na prática, podem acabar privilegiando candidatos mais jovens.
Em entrevista à Revista Piauí, Mórris Litvak, fala sobre o Grey Washing no mercado de trabalho; preconceito das empresas para pessoas maduras:
“Hoje, 27,7% da população brasileira, segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), têm mais de 50 anos. Achávamos que esse número só chegaria daqui a uns três anos, mas já estamos lá: no Brasil, a cada 21 segundos, uma pessoa completa cinco décadas de vida”.
“O problema é que os adultos mais novos, que são a maior parte da população, não estão vendo isso. Como maior camada etária, são eles que ditam as tendências”. Vamos aos números:
- Os jovens de 20 a 39 anos são 30,82% da população, e os adultos de 40 a 49, 14,63%.
- Juntas, essas duas parcelas somam 45,45% do total de brasileiros.
- E eles não estão nem aí com os 56,28 milhões de pessoas de 50 anos ou mais, os 27,7% da população total que já passaram de meio século.
“Parece forte falar isso? Mas é a realidade, afirma Morris. Muitas empresas usam sistemas de seleção de pessoal em que o primeiro corte, na hora de analisar os currículos recebidos, é a idade. Acima de tantos anos, está fora. Até para conseguir empréstimo quem tem mais idade sofre”.
“Por que eu insisto em falar de gente mais velha? Porque, como já disse, quase um terço da população do Brasil tem mais de 50 anos. E esse número vai crescer ainda mais. Essas pessoas precisam estar no mercado de trabalho, estar representadas nas empresas. As companhias precisam pensar nelas quando lançam seus produtos. O governo precisa lembrar delas quando faz políticas públicas, e os parlamentares, ao criarem as leis.
Se o principal executivo das maiores empresas já passou dos 50, por que elas não enxergam o etarismo? Por que o tema ainda não é prioridade? As empresas têm metas de diversidade de raça, de gênero e de inclusão de pessoas LGBTQIA+ e com deficiência, o que é ótimo.
O problema é que elas continuam se esquecendo dos 50+, dos 60+, dos 70+, e isso é uma chance que se perde”, analisa Morris.
Mórris Litvak – é engenheiro de software, presidente e fundador da Maturi, uma startup de consultoria, vagas e treinamento voltada para a colocação no mercado de trabalho do público 50+
Saiba mais acessando: https://www.maturi.com.br/
As pessoas maduras querem e precisam trabalhar
Com a inversão da pirâmide etária no Brasil e prolongamento da expectativa de vida da população, é cada vez mais comum ver pessoas mais velhas trabalhando.
E se antes havia a ideia de que o país era formado por maioria jovem, esse cenário mudou, reforça Maria José Tonelli, professora no departamento de Administração Geral e Recursos Humanos na FGV-EAESP.
“As empresas não se dão conta que a população brasileira está envelhecendo, embora os dados sejam evidentes”, diz a especialista.
Essa transição também foi percebida em relação à aposentadoria, tanto no Brasil quanto no exterior. “Nós tínhamos socialmente um modelo de que as pessoas chegavam nos 50 e 60 e tinham que se aposentar, mas isso não é mais factível”, destaca Tonelli.
Mulheres 50+ sofrem mais para conseguir emprego
A questão de gênero também é um forte indicativo quando falamos de desemprego entre pessoas acima dos 50 anos. No caso das mulheres, a dificuldade para uma recolocação se inicia até antes dessa idade.
“As mulheres começam a perceber o envelhecimento delas na força de trabalho aos 40 anos de idade”, afirma Tonelli.
“Há, ainda, uma cobrança excessiva em relação à aparência da mulher que, muitas vezes, não ocorre da mesma forma com os homens.” Esse estigma social, segundo Tonelli, se reflete constantemente no mercado de trabalho.
“Se a mulher deixa o cabelo branco é vista como desleixada. Mas os homens que ficam com cabelo branco não são vistos com preconceito. Neles, isso significa experiência.”
Preconceito inconsciente
Embora seja contra a lei colocar um limitador de idade em anúncios de contratações de trabalho, as empresas podem fazer isso de forma indireta.
Assim como a sociedade, muitas companhias podem reproduzir etarismo de forma inconsciente nos processos seletivos, segundo os especialistas.
Para mudar esse cenário, é necessário criar políticas eficientes, desde as primeiras etapas da entrevista.
Como resolver o problema?
Para aumentar a inserção desses profissionais no mercado de trabalho, é preciso pensar em ferramentas individuais, práticas organizacionais e na atuação do governo nesse processo.
“Estamos falando de sociedade. A população japonesa é envelhecida e o governo investiu na capacitação tecnológica dos mais velhos”, destaca Tonelli.
Em relação às empresas, o ideal é avançar de modo geral na capacitação do profissional, dando um olhar diferenciado para aquele indivíduo mais velho.
Além disso, mudar a forma de como aquele candidato pode ser aproveitado para determinada função, é extremamente importante.
“Vamos precisar conviver com novas formas de trabalho e posições que privilegiam os diferenciais que a idade traz”, diz Sérgio Serapião, co-fundador e CEO da Labora.
Ele explica que em setores de varejo, é muito difícil aproveitar uma pessoa 50+ em posições que a deixem muito tempo em pé. O ideal é que seja uma posição positiva para que possa extrair o melhor daquele candidato.
Para Serapião, é necessário ainda que as empresas mudem suas dinâmicas para conseguirem se tornar mais plurais. Pensar em mudanças significativas faz toda a diferença, segundo ele.
“O mais importante é o formato de trabalho. É fundamental pensar em jornadas curtas, que tenham um equilíbrio entre o trabalho e a saúde”, afirma.
“Por último, é preciso ter ações individuais. O profissional precisa estudar, buscar avanços e seguir na busca por emprego”.
“O ideal é fazer isso da maneira tradicional, e também procurar ajuda de empresas especializadas nesse tipo de recolocação de pessoas mais velhas”
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Estilo 5.0+
Fontes:
https://uplexis.com.br/blog/artigos/greenwashing-socialwashing-o-que-significam-estes-termos/