Reposição Hormonal na menopausa, entendendo os riscos e benefícios com a Dra. Claudia Takano

Reposição hormonal na menopausa

Reposição hormonal é um tema frequente de interesse e que gera sempre dúvidas junto as mulheres 50+.  Fazer ou não fazer, riscos e Benefícios, as novidades que surgiram e por aí vai.

Para conversar sobre isso, a Fundadora da Estilo 5.0+, Cintia Yamamoto, convidou a Dra. Claudia Takano, médica ginecologista, para nos dar a sua orientação sobre esse tema.

Vamos rever o perfil da Dra. Claudia?

Dra. Claudia Takano, Médica Ginecologista e Obstetra com Graduação, Mestrado e Doutorado pela Escola Paulista de Medicina/ Unifesp. Preceptora do Ambulatório de Uroginecologia, Coordenadora do Ambulatório de Malformações Genitais da Unifesp e Preceptora dos alunos da graduação do curso de medicina e da residência em Ginecologia- Unifesp

Como e quando é indicada a Reposição Hormonal

Dra. Claudia explica que a Reposição Hormonal é um tratamento individualizado. A indicação de prescrever ou não uma Reposição Hormonal é baseada em resultados de estudos científicos ao longo do tempo com um grande número de mulheres.

Dra Claudia comenta que não vale as experiências das amigas da paciente, por exemplo:  “a prima da minha vizinha tomou e se deu bem ou a amiga da minha cunhada”. É preciso se basear em evidências sólidas.

  • Primeira indicação – a mulher tem que ter sintomas. A indicação é baseada na presença de sintomatologia.

E da sintomatologia mais frequentes que leva a prescrição da reposição hormonal seriam aqueles sintomas vasomotores. Os fogachos, as ondas de calor que por vezes podem ser muito intensas, frequentes e realmente atrapalham a qualidade de vida da mulher. E esses sintomas acontecem em cerca de 80% das mulheres nesse período Perimenopausa ou no pós-menopausa.

E por que a gente sabe que pode prescrever?

Porque na verdade os sintomas vasomotores respondem ao uso da reposição hormonal. Eles são decorrentes da queda estrogênica e respondem bem à reposição hormonal. Quer dizer, é efetivo. E muito mais do que os outros tratamentos. Na maioria das vezes chega a diminuir mais de 75%, tanto a intensidade como a frequência dos calores. Então a primeira indicação seria essa.

  • Segunda indicação – seria para aqueles sintomas conhecidos como   sintomas geniturinários(*), que também decorrem da queda estrogênica.

Em geral eles não são tão precoces como na maioria das vezes acontece com os sintomas vasomotores. Eles podem ir se intensificando ao longo dos meses pós-menopausa, ou anos, e respondem muito bem à reposição estrogênica. Em geral, mais do que no placebo. Porque os estudos sempre estão comparados com o placebo e costumam responder melhor do que os outros tratamentos, embora hoje hajam também outras alternativas.

Então os sintomas melhoram. Com a ressalva de que nesse caso não precisa ser uma reposição hormonal propriamente dita no sentido de um comprimido, um adesivo ou um gel. Pode ser uma reposição hormonal local.

(*)Sintomas mais comuns: ardência, ressecamento vaginal, prurido (coceira) local, dispareunia (dor na relação sexual), disúria (dor ao urinar), urgência e infecções urinárias recorrentes.) *https://sgorj.org.br/noticias/sindrome-geniturinaria-da-menopausa/#:~:text=Todos%20esses%20sinais%20locais%20contribuem,urg%C3%AAncia%20e%20infec%C3%A7%C3%B5es%20urin%C3%A1rias%20recorrentes.

  • Terceira indicação – seria para aquelas mulheres que têm baixa densidade óssea, osteoporose causada pela perda estrogênica para prevenir uma fratura.

Dra. Claudia resume que em alguma dessas sintomatologias ou queixas seria indicada a Reposição Hormonal, porque ela é efetiva e os benefícios superam os riscos.

Então desde que a mulher não tenha contraindicações, ela se beneficia com esses tratamentos.

A Reposição Hormonal pode causar o Câncer de Mama?

Dra. Claudia responde que baseado em alguns estudos e um em especial, muito robusto, em função da quantidade de mulheres avaliadas, pelo tempo do estudo e pelo desenho do estudo e pela comparação com milhares de mulheres que usaram e não usaram, sim, existe esse risco.

Mas a Dra Claudia acha importante dar informações mais aprofundadas

  • O risco relativo, depois de cerca de cinco anos de uso da reposição hormonal mais habitualmente utilizada que é estrogênio com progesterona.

Ela aumentou o risco relativo para 1.2. O que significa que em termos de incidência de câncer de mama há um acréscimo de 0,1% por ano ou 1 para 1000 casos por ano pelo uso da reposição hormonal.

Então por que isso é quantificado? Porque isso não é muito, mas isso existe; há um aumento real de câncer de mama, de cerca de 1 caso por 1000 causado pela reposição hormonal por ano.

Dra Claudia continua: esse estudo foi muito forte no caso da evidência.  Então há esse dado. Esse aumento de risco parece realmente começar a ser mais significativo após 5 anos de uso. E aconteceu da reposição do estrogênio com progesterona.

  • Hoje se sabe e a Dra. Claudia acredita que deverá haver mais evidências ao longo dos anos, que fazer uso do estrogênio isoladamente parece não haver esse tipo de risco. Aquelas mulheres que não precisam fazer uso da progesterona, como por exemplo, mulheres que não tem útero que seria a principal indicação de não fazer uso da progesterona associada não correriam esse risco.
  • Outro fator de redução de risco estaria associado ao tipo de progesterona utilizado, segundo alguns estudos. Aparentemente com alguns tipos de progesterona o risco é menor. Progesterona natural parece ter um impacto menor no câncer de mama.

Portanto, resume Dra. Claudia, existem vários esquemas de tratamento. Não se pode colocar todos no mesmo cesto.

Entendendo os tipos de Reposição Hormonal

Dra. Claudia explica que sempre será prescrito o estrogênio para a mulher com indicação de Reposição Hormonal. O estrogênio pode ser dado na forma de comprimido já associado com a progesterona. E porque é associado? Porque na verdade a maioria dos sintomas da mulher é pela falta de estrogênio.

Mas o uso da progesterona é associado porque o uso só do estrogênio aumenta o risco de ter uma alteração de uma parte do útero, chamada endométrio levando a uma interfasia e aumento do risco de câncer do endométrio, já sabidamente confirmado.

O estrogênio é por via oral, mas também pode ser em gel, ou por adesivo que é trocado 2x por semana.

A progesterona, quando associada ao estrogênio,  pode ser na via oral. E também há diferentes formas de progesterona. Existe a progesterona por via transdérmica associada ao estrogênio, um adesivo com progesterona e estrogênio. Mas ainda não existe disponível a progesterona em forma de gel.

Nos estudos realizados até agora, manipular a progesterona em forma de gel não parece ser efetiva.  Ou se usa via oral, ou adesivo associado ao estrogênio.

Houve um problema nos últimos anos no Brasil por falta dos transdérmicos. Não por um problema do medicamento em si, mas por falta de insumos no mercado para a produção dos adesivos. Mas são uma opção muito boa.

Todos têm um efeito positivo na melhora dos sintomas, porém a via transdérmica dos hormônios evita uma primeira passagem no fígado na metabolização e com isso tem um impacto menor na alteração da coagulação.

Há dois riscos no uso da reposição, alerta a Dra. Claudia.

Um deles é o da mama como já mencionado e o outro seria aumentar o risco da trombose.

Quando a pessoa usa via transdérmica o risco de trombose é menor. É por isso que a Dra Claudia reforça que é um tratamento individualizado.

Para uma mulher pode ser melhor a transdérmica, para outra, melhor o uso via oral. Alguns médicos acham que para algumas mulheres o risco é tão pequeno que recomendam o uso por via oral.

Por via oral o custo do medicamento é até menor.  Por chip, a Anvisa ainda não liberou.

Contraindicações para a Reposição Hormonal

Dra Claudia comenta as contraindicações para a reposição hormonal:

  • Ter ou ter tido câncer de mama

Ter uma doença hepática em atividade que altere essa capacidade de metabolização dos hormônios

  • Ter tido uma doença vascular arterial ou venosa. Um AVC, infarto ou uma trombose. Os hormônios alteram a coagulação aumentando o risco de trombose.
  • Outras situações mais raras:
    • Ter doença lúpus eritematoso sistêmico
    • Ter tumor cerebral meningioma: o hormônio pode aumentar
    • Ter uma doença genética chamada porfiria bem rara. O estrogênio administrado pode causar crises
    • Ter câncer do endométrio.
    • Ter um sangramento genital cuja causa não tenha sido descoberta.

É muito importante a mulher buscar um profissional de saúde para ter a orientação correta.

Orientações adicionais da Dra. Claudia Takano

Dra Claudia ressalta que há outros sintomas que impactam a qualidade da vida da mulher nessa fase da vida, como alterações de humor, de sono e da vida sexual e dores articulares também parecem responder bem a reposição hormonal.

Mas essas questões são multifatoriais até mesmo a disfunção sexual. Se está com pouca lubrificação, parede mais fina da vagina, pode ser uma indicação de uso da reposição hormonal.

Quando a paciente tem uma contraindicação ou não responde a reposição hormonal, pode ser feito outro tratamento de ultra frequência ou laser que atuam na vagina e na vulva estimulando a produção de colágeno. Quando não existe uma adaptação adequada do creme vaginal com o uso frequente, é uma recomendação viável que tem se se mostrado eficiente nos últimos anos.

Dra. Claudia comenta que hoje existe uma janela de oportunidade para a reposição hormonal. Até 10 anos após a menopausa, normalmente entre 50 e 60 anos. Nessa faixa etária, os benefícios da Reposição Hormonal são grandes e superam os riscos. Provavelmente para uma mulher após esse período talvez os benefícios não sejam tão superiores aos riscos.

Outro ponto importante é que o esquema da Reposição Hormonal precisa ser individualizado e o médico pode conversar com a mulher e fazer a melhor recomendação.

O uso da reposição entre os 50 e 59 anos também podem gerar outros benefício, apesar da Dra. Claudia enfatizar que a indicação não deve ser feita por conta disso. Ele pode até diminuir o risco cardiovascular. Quando a pessoa tem uma queda estrogênica, tem uma piora do padrão de colesterol. A mulher saudável dessa faixa etária pode ter esse benefício.

Diferente de uma mulher mais velha que já tenha alguma doença cardiovascular de base, onde a Reposição Hormonal pode até aumentar o risco. Por essa razão é que a indicação é muito individualizada,  vai depender de cada mulher.

Independente da indicação da Reposição Hormonal pode trazer sim uma série de benefícios em muitas mulheres, Dra. Claudia diz que antes disso, a mulher que está no climatério precisa cuidar da saúde de um modo geral porque ela provavelmente vai ter um aumento de peso, uma diminuição de massa muscular e aumento de gordura no corpo se continuar com o mesmo ritmo de vida. Com o tempo pode aumentar o risco cardiovascular, diminuir a densidade óssea predispondo a osteoporose e fratura. Precisa praticar exercícios, ter uma boa alimentação, evitar o aumento de peso e o uso excessivo de álcool e não fumar.

Dra. Claudia trouxe alguns dados interessantes sobre a incidência de câncer de mama em mulheres de 50 a 59 anos, nos próximos 5 anos no Reino Unido:

  • 23 casos em cada 1.000 mulheres
  • Incidência com uso de reposição hormonal: 4 casos a mais
  • Pílula é a mesma coisa que reposição hormonal: 4 casos a mais
  • Uso do álcool: 5 casos a mais
  • Fumantes: 3 casos a mais
  • Obesas: 24 casos a mais
  • Mulheres que fazem exercícios regularmente: 7 casos a menos.

Dra Claudia esclarece que não existe um consenso entre as diversas sociedades sobre um tempo limite, mas em geral se fala entre 5 a 10 anos que seria benéfico. Normalmente depois de 5 anos, se faz uma avaliação, com 7 reduz e com 10 anos pode suspender, mas não existe um limite que estabelecido.

Desde que a mulher esteja bem controlada e adaptada, não existe uma regra de que ela precisa parar, complementa a Dra. Claudia.

O risco de trombose parece ser maior quando a mulher fica mais velha. Mas também é maior nos primeiros anos de usos. Provavelmente a mulher já tinham esse risco.

Orientação médica e cuidar da saúde. É a recomendação final.

Dúvidas adicionais podem ser encaminhadas pelos canais da Estilo 5.0+ que serão consolidadas e enviadas para a Dra. Claudia.

Assista a entrevista com a Dra. Claudia Takano na íntegra:

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Um abraço!

Time Estilo 5.0+

 

Cintia Yamamoto Ruggiero

Sou apaixonada pelo tema Longevidade, curiosa e inquieta! Quero participar ativamente da revolução da longevidade e colocar o aprendizado profissional de mais de 30 anos e a experiência nas áreas de Negócios e Marketing para trazer conteúdos, produtos e serviços para as Mulheres 50+, conectadas, curiosas e interessadas!