Geração Sanduíche: cuidar de nós, dos filhos e dos pais idosos

Geração Sandwich e cuidados com idosos

O aumento da longevidade traz muitas alegrais, mas também alguns desafios e necessidades de adaptação e aprendizados.

Os brasileiros estão vivendo cada vez mais e isso tem aumentado a demanda pelo trabalho de cuidado. Os adultos têm que cuidar dos pais, dos filhos e, às vezes, também dos netos, no que ficou conhecido como “Geração Sanduíche”, onde as mulheres é a maioria.

Pensando nisso, a Fundadora da Estilo 5.0+ Cintia Yamamoto, teve um bate papo com a Dra. Claudia Fló, Doutora em Fisiopatologia Experimental e Envelhecimento Humano pela USP.

Dra. Claudia Fló é doutora em Fisiopatologia Experimental pela Faculdade de Medicina da USP, Especialista em Gerontologia pela SBGG, Coordenadora da Área Técnica de Saúde do Idoso da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Foi Presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Claudia compartilhou com a gente seu conhecimento, experiência e aprendizados sobre o que tem evoluído com relação às alternativas privadas e públicas quando o cuidado dos idosos é necessário e a família não consegue, ou não quer assumir.

Geração sanduíche. O que é?

É a geração espremida entre gerações. É formada por pessoas, geralmente mulheres, que cuidam dos filhos e dos pais idosos.

O termo “Geração Sanduíche” foi criado pela assistente social Dorothy A. Miller em 1981 para descrever filhos adultos de idosos que estão “imprensados” entre cuidar de seus próprios filhos e seus pais idosos.

Dra Claudia diz que o aumento da longevidade trouxe esse novo cenário; criou a Geração Sanduíche. Viver até os 100 anos não é mais tão excepcional como no passado e menciona que o aumento da longevidade acontece no mundo todo. Um exemplo é o Hospital das Clínicas que conta com um ambulatório específico para atender os centenários, fato impensável há anos atrás.

O Censo de 2022 publicado pelo IBGE

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Geração Sanduíche corresponde a mais de um terço da população. A maioria é mulher.

Censo 2022

A situação da sobrecarga é democrática entre mulheres em idade economicamente ativa, independentemente da classe social. Elas têm uma carga de afazeres domésticos maior que a dos homens.

Ainda segundo o IBGE, enquanto mais de 90 % das mulheres com mais de 25 anos realizam tarefas domésticas dentro de casa, o percentual entre homens não passa dos 80%.

O envelhecimento da população no Brasil está em ritmo acelerado e as pessoas estão aprendendo a lidar com essa realidade no ambiente familiar e a Geração Sanduíche está bem no meio da tormenta. A seguir vamos abordar alguns aspectos e alternativas que podem ser avaliadas para ajudar aspectos desta nova realidade de cuidados aos idosos.

A importância do convívio social dos idosos

Se manter integrado à sociedade faz toda a diferença na vida dos idosos. Ficar várias horas sozinho em frente à TV, sem ter com quem conversar é deprimente e estressante.

Além disso, conversar com pessoas de idade semelhante é muito gostoso, vivenciaram situações semelhantes ao longo da vida. Há reciprocidade, reforça a Dra. Claudia.

Recentemente publicamos em nosso Blog uma matéria sobre Os Segredos das Zonas Azuis para viver até 100 anos com base no documentário do jornalista Dan Buettner e entre os 9 fatores comuns identificados por ele nestes locais o convívio social é um deles. Dedicar tempo para contato com amigos e familiares fortalece os vínculos afetivos. A solidão aumenta os riscos de doenças. Se você ainda não viu, acesse https://estilo5ponto0mais.com.br/blog/os-segredos-das-zonas-azuis-para-viver-ate-os-100-anos/

Identificar novas atividades e interesses pode gerar novas amizades para quem não conta com uma rede de relacionamentos.

Opções de moradia para idosos

Há várias opções de moradia a serem consideradas para o idoso viver.

Viver na sua própria casa, na casa de familiares ou em moradia assistida.

1. Morar com a família

É importante, antes de mais nada, perguntar se o idoso quer morar com familiares, orienta a Dra. Claudia.

A idade só reforça as características da pessoa. O idoso pode ser uma ótima companhia para os netos. Convivência com outras gerações, a Intergeracionalidade, traz revitalização da vida.

Mas, como todos nós, precisa ter seu canto. E, se possível ter com ele alguns objetos que se reconheça, como móveis, por exemplo.

Importante evitar o rodízio na família, que o idoso mude toda semana de casa. A estabilidade vai gerar tranquilidade e segurança. O idoso que muda de casa com frequência perde o vínculo consigo mesmo, acaba ficando confuso e não se identifica com ninguém. É a pior solução, e se tiver déficit de atenção, piora bastante.  Não se reconhece em nenhum dos ambientes.

2. ”Aging in Place” – Adequações para permanecer na própria casa

Em geral, as pessoas preferem ficar na sua própria casa. Mas é importante fazer algumas modificações que facilitem a mobilização e a convivência.

A primeira coisa é a gente se reconhecer mais velho. E ir fazendo as adaptações progressivamente, como colocar barra no banheiro, um banquinho preso na parede, poucos tapetes na casa e, mesmo assim, de tamanho grande, na sala e fixo debaixo dos sofás. Colocar as coisas do dia a dia, de maior uso, ao alcance das mãos. E nunca subir em banquinhos.

Se for possível, morar perto de algum parente ou amigo para eventuais emergências. Prefira morar num apartamento, ou casa térrea. Evite as escadas.

Hoje existem alguns profissionais e empresas especializadas em ambientes para os longevos. Um destes profissionais é a Flavia Ranieri que trabalha com Gero arquitetura. Você pode ver algumas dicas que ela dá em seu instagram @flaviaranieri

3. Cuidadores de Idosos

Contratar um cuidador é uma opção de ajuda externa para apoiar o idoso nas tarefas diárias. Porém é um processo difícil na escolha e na integração do cuidador com o idoso e seus familiares.

Dra. Claudia sugere procurar esse profissional através de uma empresa de cuidadores recomendada por um amigo ou o geriatra. É um profissional superimportante com uma responsabilidade imensa sobre o nosso familiar.

De qualquer maneira, é muito importante que o idoso concorde em ter um cuidador. Mas, muitas vezes, o idoso nega que necessite deste apoio, apesar da família entender o contrário.

Infelizmente, as vezes o convencimento da necessidade acontece depois de um acidente real como algum caso de queda ou dificuldade de locomoção efetiva que o próprio idoso reconheça.

Sugerir um teste durante algum tempo pode ser um bom processo de convencimento, trazendo cenários reais como o fato de acordar muitas vezes para ir ao banheiro, toma medicamentos e pode estar sonolento com risco de queda.

O ideal é combinar e entrevistar o cuidador junto com o idoso se tiver a parte cognitiva preservada. Afinal, colocar uma pessoa estranha dentro da casa e do quarto sempre é uma invasão de privacidade.

Procurar entender os motivos da escolha da profissão pela pessoa e referências de empregadores anteriores sobre o Cuidador é fundamental.

4. ILPI- Instituto de Longa Permanência

O idoso, ou a família que tem recursos para pagar um residencial, que no passado se falava em asilo, agora é ILPIs- Instituição de Longa Permanência, Casas de repouso, ou residenciais pode optar por soluções em formato vertical (prédios), ou horizontais. Nesses locais, o idoso pode viver, ter seu espaço, alimentação, lazer, fazer amigos e sair com seus familiares.

Além das ILPIs privadas no Brasil. Há também as públicas.

Recentemente o Governo do Estado de São Paulo criou o Programa Vida Longa, voltado a idosos em situação de vulnerabilidade social que vivem preferencialmente sozinhos. A inciativa conta com investimentos de R$ 131,2 milhões e está viabilizando 738 unidades habitacionais de uso gratuito.

Os imóveis são destinados a pessoas com 60 anos ou mais e renda de até dois salários mínimos. Os beneficiários devem residir há pelo menos dois anos no município, além de terem autonomia para fazer tarefas diárias.

Se a opção para o idoso for institucionalizar, ir para uma instituição, o ideal é que ele concorde e participe da escolha. Um dos riscos comuns de institucionalizar o idoso é o espaçamento das visitas pela família, o distanciamento familiar.

Há alguns portais digitais que ajudam nessa tarefa onde você define o valor disponível e a região de sua preferência. O Portal apresenta as sugestões mais adequadas ao perfil do idoso. O próximo passo é visitar, conhecer o local e ver se está de acordo com sua expectativa.

https://morarsenior.com.br/

https://www.portalcasasderepouso.com.br/

5. Alternativas de instituições públicas para idosos

Quando as pessoas não têm recursos, a melhor alternativa é procurar pelo CRAS – Centro de Referência de Assistência Social ou pelo CREAS – Centro de Referência em Assistência Social, dedicados somente para famílias com recursos limitados, diferentemente da saúde que atende qualquer pessoa, independentemente de ter ou não um Plano de Saúde ou estar empregada ou não.

Em caso de necessidade, a pessoa deve iniciar o processo pelo CRAS para receber toda a informação e orientação sobre vagas em Instituições

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/cras/

6. Centros de convivência e Centro Dia ou Day Care

Centros de convivência são locais onde o idoso independente desenvolve atividades de lazer, culturais, pratica atividades físicas, faz artesanato, se socializa e desenvolve relacionamentos colaborando para a sua qualidade de vida.

O Centro Dia é destinado a permanência dos idosos semi-dependentes, dependentes, ou ainda independentes que não podem ficar sozinhos em casa, no período diurno. O idoso permanece no Centro Dia por um período integral ou meio período, sendo acompanhado.

Na opinião da Dra Claudia, o Centro Dia é uma ótima alternativa para facilitar a vida dos familiares que trabalham ou que estão impossibilitados de prestar assistência ao idoso neste período. E para os idosos que são assistidos durante o dia e retornam para suas casas, mantendo o vínculo com a família.

A prefeitura criou algumas alternativas de Centro Dia para os idosos:

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/idosos/index.php?p=331342

Cuidados em caso de hospitalização do idoso: Delirium

Atenção aos quadros de delirium: também denominado estado confusional agudo, é um quadro clínico frequente entre os idosos hospitalizados que se caracteriza por início agudo, curso flutuante, déficit de atenção, pensamento desorganizado e alteração do nível de consciência por não reconhecer o ambiente. (Https://www.hcor.com.br/area-medica/wp-content/uploads/2020/11/6-Protocolo-Delirium.pdf)

No caso de hospitalização do idoso é muito importante ter alguém da família junto com ele no hospital, para manter a referência. Ou algum objeto familiar, como um porta-retratos, por exemplo.

Como se preparar para viver uma boa velhice?

A gente envelhece desde que nasceu. O ideal é pensar no que vai acontecer quando ficarmos velhos. Comece tendo uma boa relação com a família, ao longo da vida.

Ter muitas amizades, se relacionar bem com a família e os filhos. Controlar o temperamento e procurar gostar de muitas coisas.

Prepare-se para ampliar o leque de opções. Caminhar, nadar, praticar outro esporte. Isso vale também para outros interesses como sair com amigos, ir ao cinema, teatro, viajar, fazer artesanato e desenvolver hobbies. Se você amplia as opções, o ciclo de relacionamento e, consequentemente, uma rede de apoio no futuro.

Ter recursos para tudo isso é muito importante. É importante pensar e planejar quanto dos seus recursos você vai reservar para a velhice.

Os recursos permitem que você tenha independência e liberdade, ainda que tenha que morar com um filho ou familiar, terá como ajudar nas despesas, contratar uma funcionária, pagar uma viagem, um presente e se integrar na vida da família.

Nossa geração vai viver bastante, mas a próxima vai viver ainda mais. E precisam rapidamente aprender sobre finanças e garantir uma velhice tranquila e amparada.

Procure viver a vida com alegria. Tenha um propósito na vida. Acordar e ter o que fazer. Saia da cama de manhã, seja alegre, tenha bom humor, isto faz toda a diferença. Isso volta para você. Se cuide, da saúde e da aparência. Goste de você!!

Convidamos você a assistir o bate papo integral da nossa Fundadora com a Dra. Claudia Fló acessando o canal do YouTube da Estilo 5.0+:

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Um abraço!

Time Estilo 5.0+

Fontes:

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/11/09/geracao-sanduiche-antropologa-diz-que-mulheres-estao-esmagadas-por-cuidados-com-pais-filhos-e-netos.ghtml

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/idosos/index.php?p=331342

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/cras/

https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/governo-do-estado-beneficia-mais-de-730-idosos-com-moradia-digna/

Cintia Yamamoto Ruggiero

Sou apaixonada pelo tema Longevidade, curiosa e inquieta! Quero participar ativamente da revolução da longevidade e colocar o aprendizado profissional de mais de 30 anos e a experiência nas áreas de Negócios e Marketing para trazer conteúdos, produtos e serviços para as Mulheres 50+, conectadas, curiosas e interessadas!