Uma frase de Fernando Pessoa que pode definir um pouco de Luci Ferreira, a entrevistada de Inspiração de Vida da Estilo 5.0+.
Luci Ferreira é a 9ª. filha de um casal de imigrantes do nordeste para São Paulo, de coração alagoano como ela mesma se define. Sociável e guerreira que desde sempre ajudou a organizar a família e a integrar os irmãos com as irmãs. Com uma intenção de liderança agregadora e feminista que determinou suas conquistas e a trajetória de sucesso.
A gente tem certeza que este bate papo vai inspirar muita gente!!
Perfil da Luci Ferreira
Conselheira da WILL Women In Leadership In Latin America & do MMMP Movimento Mais Mulheres na Política, Luci é Especialista/Consultora e palestrante nos temas de Diversidade, Equidade e Inclusão. Membro do Grupo Mulheres do Brasil há mais de 10 anos, atuando em diversos comitês.
Cursou a Universidade Mackenzie, concluiu dois MBAs em Finanças pelo Insper e cursou o Mestrado em Empoderamento Feminino pelo Mackenzie.
É Ciclista, Yogui e orgulhosa mãe de dois filhos.
Trabalhou no mercado financeiro por mais de 30 em grandes Instituições europeias como o Lloyds Bank, o ABN Amro e o BNP Paribas onde esteve responsável pela Área de Diversidade e Inclusão até 2021
Como Voluntária …atua como Mentora de carreira dos programas de Mulheres da WILL, da Fiesp, do IVG e do MdB e membro do Grupo de Conselheiros Diversity Boards.
Mora em Portugal desde junho de 2023 e lá também é palestrante na NOVA SBE School of Business & Economics e voluntária no Movimento Amigos do Bem da Cruz Vermelha.
Linha do tempo: Infância, juventude e vida adulta
Infância:
Luci é a nona filha de uma família de migrantes do nordeste para São Paulo. “Minha mãe é alagoana, meu coração é alagoano. Nasceu uma coisa de viver em grupo. Não tinha saída. Você já nasce assim. 11 pessoas na família o que me tornou uma pessoa muito sociável. Sempre falei bastante, fui corajosa no sentido de quem quer ser voluntário e sempre levantava a mão, desde o primário. E sempre foi esse o meu papel na família. Sendo a 9ª. Filha, se não levantasse a mão, morreria de sede em algum cantinho”.
Luci diz que dá aos irmãos o prêmio de fazerem dela uma mulher feminista e ativista desde os 12 anos porque ela via os irmãos ajudando em casa quando podiam, mas as mulheres trabalhavam muito mais. Hoje ela percebe que passou décadas observando essas diferenças. Ela lembra que perguntava para sua mãe: “Por que aos sábados a gente ajuda na casa e os meninos vão jogar bola? Eles têm que ficar aqui.”
Já nesse período Luci começou a organizar as tarefas de casa para que os seus irmãos mais novos também ajudassem na casa aos sábados.
Juventude:
Luci fez Letras no Mackenzie e amava estudar inglês e era apaixonada pela cultura inglesa. Ela conseguiu estágio no Lloyds Bank. Neste cenário ela decidiu que queria morar na Inglaterra e aos 21 anos foi morar naquele país onde ficou por 1 ano e meio e durante este período viajou por 17 países. Hoje ela entende que este período a transformou também.
No retorno ao Brasil já não era mais estagiária, foi convidada para fazer a inscrição para o concurso de Trainee Executivo do Lloyds Bank. Eram 2000 candidatos, passaram 12 pessoas sendo só 2 mulheres.
Pouco tempo depois Luci foi trabalhar no ABN AMRO, banco holandês. Segundo Luci, um banco muito mais moderno que o banco inglês devido a própria cultura dos holandeses e dos ingleses. Ela conta que já via no banco holandês mais espaço para seu crescimento profissional como mulher porque já via mulheres executivas na empresa fora do Brasil enquanto no Lloyds isso não acontecia.
Luci comenta que ela acredita que “Quando a gente não tem referência, a gente não constrói repertório. Eu não tinha referência então não construía repertório. Aí fui construindo meu repertório de forma mais parruda no banco holandês onde fiquei 18 anos. Devo a tantas pessoas, que deveria agradecer aqui, mas não dá. Tenho que agradecer ao *Fábio Barbosa, que era nosso presidente, meu querido amigo, dentre outros. Fábio Barbosa me transformou em Managing Director do Banco para a América Latina toda.”
* Fábio Colletti Barbosa é um administrador e executivo brasileiro que presidiu o Banco ABN Amro Real, Santander Brasil e Abril Mídia. Atualmente é o diretor-presidente, da Natura.
Vida Adulta:
Luci explica que a passos largos foi assumindo a mulher que sempre foi. Neste período Luci casou e teve seus 2 filhos, o primeiro filho em 1995 e o segundo em 2009.
Mesmo com todas as responsabilidades como mãe, mulher e executiva, Luci nunca perdeu o olhar como ativista e em 2003 montou o primeiro grupo de mulheres em 2003 ao lado de sua grande amiga, Fernanda Teixeira, hoje coordenadora do grupo Mulheres do Brasil há mais de 10 anos. Na época o grupo se chamava Executivas do Brasil e se reunia num grande hotel de São Paulo para falar sobre assuntos que incomodavam essas executivas já naquela época, como por exemplo a maternidade, de mesmo salário quando desempenha as mesmas funções, sobre a discriminação em si por serem mulheres, ganhar menos bônus, a não participar dos happy hours.
Luci admite que olhando para aquela época, ela mesma se reconhece masculinizada no jeito de se vestir. Só usava terninhos de cores sóbrias, não usava roupa florida. Era forçada a jogar um jogo muito duro para ser respeitada e muitas vezes discutir para ser ouvida em uma reunião por exemplo.
Hoje Luci novamente agradece aos seus irmãos porque, na sua opinião eles a fizeram essa mulher forte. Ela acha que já devia dar ordem para eles desde pequena em casa, de organizar, de querer ter um espaço igual. E aí nasceu seu interesse em diversidade, igualdade e inclusão. E voltou para o Mackenzie onde fez o mestrado nesse tema.
Em 2015, Luci se tornou Managing Director de Diversidade, Igualdade e Inclusão em outro banco: no PNB PARIBAS. Uma construção de área que começou do zero, sem orçamento, sem planejamento, mas com a satisfação de construir tudo junto com outras executivas e mulheres fortíssimas na França. Luci destaca que foi muito feliz de ter encontrado sua presidente na época que deu todo apoio a ela. Com tudo isso Luci diz que 30 anos no mercado financeiro passaram muito rápido.
Luci explica que fez a transição de carreira de 2015 até 2021, de Executiva Sênior de Contas Corporativas para Executiva de Diversidade, Igualdade e Inclusão onde entende que se preparou a vida inteira para estar.
Em 2021 Luci se aposentou da carreira bancária de mais de 30 anos e continuou a dar aulas pela Assessorlux, sua consultoria onde dá aula desde 2009 e hoje é Consultora de Diversidade, Igualdade e Inclusão em grandes empresas.
Visão da Luci Ferreira sobre o Etarismo nas grandes empresas
Luci começa explicando que as mulheres sempre se aposentaram antes. Quando tinham um filho normalmente já era uma desconexão no meio da carreira. Quando faziam seus 40-45 anos já eram consideradas obsoletas.
As coisas melhoraram muito na opinião de Luci. “Hoje tem mulheres em conselho que a gente nem tinha nenhuma. Mulheres CEOs. Temos até uma num time que nem torço, o Palmeiras, a Presidente do Palmeiras, a Leila Pereira, que é uma mulher forte, engajada na questão do feminismo, convidou só as mulheres para falar com a imprensa, achei muito interessante.”
Mas Luci comenta que, na sua opinião, o etarismo ronda as mulheres em sermos menos capaz. Um exemplo seria a menopausa que é como se ela parasse de produzir, parasse de ouvir, parasse de enxergar. É um mito que ela entende que demora tempo para passar.
Mas hoje Luci acha que existe muita referência pra gente criar repertório de mulheres sessentonas maravilhosas. Mulheres de 70 anos. Ela cita como exemplo mulheres com 86 anos na Europa onde ela mora, que estão andando de bicicleta.
No Brasil, Luci acha que o etarismo é mais acirrado. “Se você tem 30 anos e ainda não casou, vai ganhar o apelido de titia. O que é absolutamente ridículo. Não faz mais nenhum sentido, mas é assim que acontece ainda em muitas famílias e grupos sociais.” comenta Luci.
Luci explica que nas organizações, as leis ajudam muito as mulheres. “Temos desde a ONU com os WEPs Princípios de Empoderamento das Mulheres. E temos a lei de cotas para questão de raça, para a questão de PCD, a gente tem vários acordos, além do Manifesto que as empresas são signatárias ou não, de mulheres tendo que estar na frente da empresa. Se você é ‘short listed’ para uma promoção, tem que ter um nome feminino e um nome masculino. Já existem carimbos, prêmios para isso. As empresas hoje ou fazem por bem porque têm ética, o presidente preocupado, de olho no futuro, ou o mercado está pressionando.”
“Não me importo qual a estrada que pegue, contanto que faça o caminho. As pessoas me perguntam se isso não é ‘pink merchandising’, ‘black merchandising’, ‘gênero merchandising’ isso é. Muitas vezes é muito blá blá blá porque internamente não têm, mas que façam. Que tenham 2, 3, 5, 10 mulheres na diretoria executiva, que tenha uma mulher no board da empresa. E aí a gente vai indo”
De qualquer maneira Luci entende que o etarismo e a equidade de gênero está melhorando, as empresas estão pegando essa avenida. Seja essa avenida do bem querer, de discutir, deixa discutir os ODS da ONU objetivos sustentáveis da ONU e vamos olhar para onde que o mundo está indo ou as empresas que não estão indo para isso vão pensar: isso vai pegar mal.
“Quando você vê uma foto na capa das revistas Veja ou Exame repletas de homens de terno preto você tem uns 40, 50 haters nas mídias sociais: Instagram Twitter perguntando onde estão essas mulheres? A gente está melhorando, mas ainda está longe. Nós mulheres precisamos continuar na luta, continuar reclamando, pedindo, continua falando onde está, porque não, porque que eu não posso e ajudar as mulheres que estão chegando.
Porque as novas mulheres não vão suportar isso. As novas gerações: geração Z, Alpha, não irão suportar essas gracinhas, não vão suportar ganhar salário mais baixo, nada disso.” reforça Luci.
Demora muito no Brasil porque há uma questão cultural, uma apologia a beleza, a juventude. Uma batalha muito forte desde dentro de casa como dividir as tarefas. Mas quando você vai para a empresa tem as outras gerações anteriores que tem essas questões machistas, etarismo, uma série de questões culturais, isso ainda leva muito tempo. Quanto mais gerações novas tiver, menor será o problema.
Uma geração inteira é o tempo estimado para uma mudança cultural, 30 anos para mudar de hábito. Como por exemplo, 30 anos para deixar de fumar em público, usar cinto de segurança.
Para que toda aquela população englobe as mudanças vamos precisar de 30 anos. Então vamos esperar de 3 vezes 30. As gerações que estão por aí são os nossos presidentes das empresas hoje.
E temos muitas mulheres machistas. Tem uma síndrome da impostora e da abelha rainha é exatamente isso. Você como mulher se posiciona. “Eu passei por tudo isso e toda mulher que quiser chegar aqui vai ter que passar também”. Muitas vezes a mulher que é líder é mais dura do que um homem.
O que que significa o nome Assessorlux?
Luci explica que Lux significa luz em latim. Assessoria com luz. É o que existe e a gente bota luz.
“Só olhar o que a gente já tem com mais luz, a gente vai ver o que tem embaixo, o que reflete atrás. É uma brincadeira com a luz querendo entrar em todos os espaços para trazer luz. Luz sobre meritocracia, sobre equidade, sobre misoginia, sobre desigualdade. Adoro esse nome. Muito legal.”, explica Luci com muito orgulho.
A experiência e aprendizados de Luci com o empreendedorismo
Na opinião de Luci é fundamental
- Ter muita disciplina. Escolhe uma. Existem umas 50. Luci cita a dos 25 minutos. Você senta e fica 25 minutos fazendo só aquilo. Depois levanta, descansa um pouco e volta novamente. São inúmeras técnicas.
- Você tem que saber o que você não quer. Então eu recortei o que eu não queria: “não quero abrir um negócio próprio, não quero ter uma franchising. Quando você se aposenta do mundo corporativo, sempre tem alguém querendo te oferecer uma franchising de alguma coisa. É um restaurante, como investidor, etc.” Recorta o que não quer e foca no que sobra.
No caso de Luci, ela diz que não abre mão do trabalho voluntário porque ela se preparou a vida inteira para ajudar as mulheres e da Assessorlux ajudando empresa e dando aulas de letramento de diversidade. Esse é o seu foco.
- Você precisa ter a disciplina de estar sempre pronto. Inovar, conectar com pessoas. No caso da Luci ela capricha no linkedin e no instagram. “Você não pode se dar ao luxo de sair das redes. Quando a gente é empreendedora tudo pode ser um negócio; qualquer encontro.”
- Pare para analisar o que está fazendo – Luci explica que para empreender você não pode focar em tudo. Você tem que diminuir o escopo e focar. Ela diz: “Tenho um livrinho que nunca me deixa sozinha, que é o meu livrinho de medidas. O que fiz no ano passado, o que deu certo. Quantas ações voluntárias. Estava fazendo muitas ações voluntárias. Estava fazendo 8 programas. Ou ficava sem agenda. Cortei 3. Estava em várias ONGs, reduzi. É a gente focar e avaliar. Analisar o “best case scenario”. Fazer o stress test; melhor, igual ou ruim. “Hoje quando eu comparo 2024 que mudei de país com 2023 e foi super complexo, está bom, 2023 com 2022 está bom e 2021 quando comecei fiz um monte de coisas e cortei. Não tem um modelo não. A gente está em evolução.”
- Conecte-se, esteja aberto a conhecer pessoas – “Todo dia tem alguém no LinkedIn: oi Luci vamos bater um papo. E falo com todo mundo, sempre arrumo um tempo. É essa disposição que faz o jogo andar.”
Luci divide seus aprendizados com a sua mudança de País
Luci mudou para Portugal recentemente e dividi aqui suas experiências e aprendizados para quem está pensando ou avaliando essa alternativa.
- É um processo de coragem e de desapego – Luci destaca que especialmente quando a pessoa morou muito tempo num país. No caso dela foram 59 anos, apesar de já ter vivido períodos na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Argentina.
Entender que talvez não seja possível levar tudo da sua moradia atual e se estabilizar no novo país com menos. Em Portugal não tem empregada doméstica, normalmente se contrata uma diarista por um numero de horas algumas vezes por semana
- Alguns benefícios – Luci afirma que na cidade onde ela mora em Portugal não existe trânsito, assaltos na rua, portanto ela não precisa fazer seguro da bicicleta como tinha que fazer aqui no Brasil, pode falar ao celular sem se preocupar, tirar fotos e tem a facilidade da língua. Seu filho tem 14 anos e, apesar de ser um português com um vocabulário e sotaque diferentes, não é um problema para ele.
- Depois da coragem, é dedicação – Luci explica que sim, existe muita burocracia, existem haters como em todo lugar, mas ainda assim ela entende que Portugal realmente acolhe os brasileiros. Ela comenta que o governo português abriu mais de 10 tipos de vistos para brasileiros. É importante a pessoa que quiser se mudar entrar nos órgãos competentes de Portugal, no Consulado, estudar qual o visto mais adequado para você e começa o processo.
No caso de Luci, levou 8 meses porque ela queria entrar em Portugal com tudo absolutamente correto.
Luci deixa aqui uma mensagem de Mahatma Gandhi que é o seu mantra: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.
E um convite: Seguir a Assessorlux no Instagram e se quiserem falar com ela só enviar mensagem pelo linkedin ou pelo Instagram.
Contatos Luci:
Instagram @assessor.lux
Linkedin Lucimara (Luci) Ferreira
Assista o bate papo integral da nossa Fundadora Cintia Yamamoto com Luci Ferreira:
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Time Estilo 5.0+