A importância e os benefícios de dizer não. Você conhece?

A importancia de aprender a dizer não

Dizer não muitas vezes parece uma palavra do universo masculino. Mas será que é isso mesmo?

Quais os benefícios de dizer não pelas mulheres? Além de melhorar a autoestima, reforçar os seus valores, saiba mais com a psicóloga Maria Ângela Rossetto, entrevistada de Cintia Yamamoto, Fundadora da Estilo 5.0+ e especialista no tema.

Vamos relembrar o perfil da Maria Ângela Rossetto:

Psicóloga Clínica há 35 anos, com Mestrado na Escola Paulista de Medicina em Distúrbios da Comunicação. Prof.ª Titular há 30 anos das cadeiras de Psicopatologia, Psicologia do Desenvolvimento Humano e Método de Rorschach na Unfmu e atualmente na Unifesp. Perita nomeada na Vara da Família do Fórum de Santo Amaro e Avaliadora de Cursos de Psicologia pelo INEP e com vários Trabalhos publicados em Congressos Nacionais e Internacionais.

Qual a importância de dizer não?

Maria Ângela esclarece que dizer não vai depender muito da maturidade emocional da pessoa e para atingir essa maturidade emocional, é preciso desenvolver o autoconhecimento. Indica que a pessoa controla a sua vida e não é controlada. Sabe impor limites e não tem medo do julgamento do outro.

A maturidade emocional permite saber a hora de dizer sim para o que ela considera importante. E a hora de falar não para o que não considera importante.

Quais os benefícios de dizer não?

Dizer não é extremamente libertador, afirma Maria Ângela. Quantas vezes a pessoa fala sim, querendo dizer não. E depois fica se culpando. “Ah como sou idiota, devia ter falado não” e vai se autodepreciando. Sou sempre a boba, etc. É extremamente libertador. E principalmente porque o nosso tempo é limitado na vida. Ele é um bem muito precioso. Devo respeitar o meu tempo, assim como o da outra pessoa.

Se me dedico a outra pessoa, estou dando para essa pessoa uma parte muito importante da minha vida. Aqui no Brasil não se respeita muito o tempo, coisa que na Europa o no Japão isso é muito importante.

A pessoa vai num casamento e tem um atraso de uma hora. O paciente não avisa com antecedência que vai se atrasar. É importante respeitar o tempo do outro e também o nosso. Se a pessoa fala sim para um dos envolvidos, vai falar não para o outro. Se fala para uma amiga que vai ajudá-la em algum trabalho, está deixando de passar um tempo com a sua família ou com o seu descanso. Então é importante saber se ela quer realmente fazer isso.  Quando ela fala não, para aquilo que é não, é ótimo; aumenta a autoestima.

Maria Ângela comenta que muitas pessoas chegam mais de meia hora atrasadas. E sem nenhum problema. Na minha área, em psicologia, a gente trabalha no tempo certo.

Quando acontece alguma coisa, o paciente começa a chorar e já está no final da consulta a gente começa a pensar em mil técnicas para não atrapalhar o tempo do próximo paciente.

Por que é tão difícil dizer não?

Maria Ângela explica que tem a ver com a maturidade. Uma necessidade de ser aprovado, de ser amado, o medo da rejeição. “As pessoas vão pensar sou egoísta”. Egoísta não tem nada a ver com falar não, reforça Maria Ângela.  Egoísmo é um amor exagerado expressando o desejo pelo outro. Isso é egoísmo. Diferente de ser empática.

Diferente de estar ajudando uma amiga que está com dificuldades em entregar o trabalho. E da amiga que não faz o trabalho e vai passear no shopping. Não é justo. Tem que diferenciar.

Ela comenta que também é difícil dizer não pelo medo de ser excluído do grupo. Interessante que isso começa na adolescência e até um pouco antes, na puberdade.  A pessoa tem medo de ser excluída do grupo então aceita as regras do grupo. É aí que muitas pessoas experimentam a primeira maconha e começam a beber. E esse comportamento também ocorre no adulto. O que indica a imaturidade emocional. A pessoa não se manifesta no grupo porque não irão gostar dela se falar o não.

Ninguém gosta de receber não. Mas ele precisa aprender a lidar com a frustração. E se ele for embora? Mas a pessoa iria embora de qualquer jeito. Então a pessoa vai gostar de você só porque você ajuda?

Ninguém é amado pelo que faz, mas pelo que é.

É um comportamento discutível falar sempre sim. Não pensar em você. Não ter tempo para você.

As mulheres têm mais dificuldade em dizer não do que os homens?

Sem dúvida, responde a Maria Ângela. Quando nasce uma filha mulher, muitas pessoas dizem assim: filha mulher é a melhor coisa, é outra coisa. Aí a pessoa tem uma filha. A filha cresce e continua com a gente. O filho some, vai embora.

E a sociedade permite isso. E cobra a mulher para ter vários adjetivos, ser atenciosa, ser meiga, agradável, educada.  E com toda essa educação ela passar a se cobrar.  Além disso, ela também pode expressar sua emoção. O homem já é mais reprimido.  A mãe pede para a filha: “vai até a padaria para mim porque estou cansada?” A filha vai.  O filho responde: vou sim, depois que acabar meu jogo. E ele não vai. A mãe fica irritada e ela vai.

A mulher tem um grande medo de ficar sozinha. Para ficar com o outro a pessoa precisa aprender a ficar sozinha. Maria Ângela comenta que no consultório, muitas mulheres declaram estar num relacionamento tóxico e dizem “melhor ficar com ele do que sem ele; ou melhor ele assim do que eu sozinha. Mas ela já está sozinha. E o relacionamento se torna cada vez pior. E elas aceitam qualquer coisa, só para ter companhia.

E aí é um trabalho árduo de resgatar a autoestima.

Cintia, fundadora da Estilo 5.0+ comenta que acredita que você não consegue dar algo que não tem. Isso de você se reenergizar, de ficar sozinha é superimportante.

Maria Ângela concorda: às vezes você está com uma pessoa, mas está sozinha.

Muitas vezes uma mulher apanha, faz o boletim de ocorrência, depois tira e volta no relacionamento. Mas porque vc voltou? Não aguentava mais ficar sozinha. Prefere correr o risco, aguentar os maus tratos? E a paciente responde: “Mas não é sempre assim”. E quando percebem já estão sozinhas. Ou que estão só servindo…

A Síndrome da Boazinha e a dificuldade de dizer não

Maria Ângela esclarece que o termo Síndrome da Boazinha não será encontrado em nenhum manual da Psiquiatria, assim como a Síndrome do Peter Pan é um jeito popular de classificar.

A Síndrome da Boazinha é uma patologia, uma compulsão em querer agradar. É um transtorno de ansiedade que indica extrema insegurança e precisa de tratamento, especialmente se atingir as áreas como social, familiar ou profissional. A pessoa se anula e começa a ter sintomas de depressão e pode entrar num processo de stress violento e numa depressão feia.  Ela já não sabe mais quem ela é e a quem ela atende, explica Maria Angela.

E não é exclusiva da mulher. Ela também acontece em alguns homens, numa proporção bem menor, como a Síndrome do Bonzinho. Essas pessoas  querem ser tão importantes, tão gentis, tão bonzinhos e disponíveis que deixa o outro desconfortável.

“Você está bem? Quer uma almofada, está confortável, quer um café, um refrigerante, um suco, eu faço agora mesmo” que a pessoa começa a se incomodar e você pensa:  “Ela está querendo me agradar, está tendo trabalho, está querendo me agradar demais”, discorre Maria Ângela.

E a causa disso é o medo de ser abandonada, a necessidade de aprovação e principalmente do julgamento do outro. Mal sabe ela que já está sendo julgada por ser inconveniente de tanto querer agradar.

Maria Ângela comenta que já perdeu as contas de quantos homens atendeu e disseram ter se separado e comentavam assim da ex: “Olha ela é uma pessoa muito boa, se precisar de ajuda é só chama-la. Ela faz tudo para todo mundo e nada para ela. Perdeu o brilho.” Perde a identidade

Ela se esqueceu dela. Ela não é mais ela. Já virou um garçom da vida. Está sempre servindo. E aí eles buscam outra mulher.

Certa vez uma paciente disse para Maria Ângela: “Eu queria sair toda sexta-feira para comer pizza. E ele não ia. Agora ele está com a outra e posta que está numa pizzaria”. Maria Ângela questionou: “Alguma vez você tentou entrar em acordo com ele que você gostaria de ir numa pizzaria toda 6. Feira? “ A paciente respondeu que não, ela só falava. E ele dizia, hoje não. Maria Ângela perguntou: “mas você insistia, você mostrava que era necessário para você? ” A paciente novamente respondeu que não. Maria Ângela disse que então provavelmente a outra conseguiu mostrar.

E para elas é um sofrimento a ausência. Ela necessita muito de afeto, de atenção. E ela acha que se agradar vai conseguir. E ninguém fica com você porque você está agradando, reforça Maria Ângela.

Normalmente uma pessoa com essa Síndrome tem dificuldade de se reconhecer nessa situação. O caminho mais curto para esse reconhecimento é a psicoterapia. Maria Ângela explica que o terapeuta até pergunta para a pessoa: qual o limite entre ser boba e boa.

Aí ela começa a levar um choque. É um trabalho de desenvolvimento do autoconhecimento. Dizer sim a tudo não é ser boa. É ser uma pessoa submissa, não se respeitar, finaliza Maria Ângela.

Como a gente pode aprender a dizer não, sem sentir culpa?

O autoconhecimento é fundamental. Quem não sabe dizer não tem um superego bastante rígido e um ego frágil. Se a pessoa não desenvolver uma maturidade de ego, uma maturidade emocional, nunca vai conseguir ser ela mesma. O caminho mais curto é a psicoterapia, que não significa que seja rápido, esclarece Maria Ângela.

É importante que ela saiba também definir o que é egoísmo. Elas ficam muito preocupadas de serem identificadas como egoístas. “Estou sendo egoísta, estou sendo julgada”, comenta Maria Ângela. Diferenciar o egoísmo de ser empática. Na empatia a pessoa se coloca no lugar do outro e valoriza o que a outra pessoa sente. Egoísmo é quando a pessoa dá muito valor às suas necessidades e despreza as da outra pessoa. E saber separar o que é prioritário, do que é importante.

Uma pessoa que sempre fala sim e depois começa a falar não, ela começa a ser criticada pelo grupo. “Você é fria, você só pensa em você”. Então ela precisa de apoio para poder aguentar essas críticas e saber rebater senão ela volta para trás, conclui Maria Ângela.

E nesse caminho provavelmente a pessoa vai encontrar outras pessoas que irão falar isso e ela terá que fazer escolhas. Provavelmente essas pessoas não fazem bem.

Muitas vezes são pessoas que estão com você por conta da sua incapacidade de se posicionar. Esse medo de ficar sozinha, ela tem que entender que em algum momento a pessoa já ia embora. Ela só queria te usar. Principalmente as mulheres precisam aprender a sair de relacionamentos tóxicos.

As mulheres já carregam uma expectativa cultural. Maria Ângela exemplifica que quando a pessoa tem uma filha, muitas pessoas comentam:  “ Ah que bom, agora você tem filha. Se fosse filho ia ficar do lado da sogra.” Olha só a expectativa da mulher. “Agora você precisa ficar do meu lado, você tem que ser boazinha porque você é filha mulher” preconiza Maria Ângela.

Cintia, a fundadora da Estilo 5.0+, reforça esse conceito mencionando a Geração Sanduiche onde predominantemente as mulheres têm assumido a responsabilidade de cuidar dos pais mais velhos, mesmo quando tem irmãos homens. Maria Ângela concorda e reforça que a filha mulher é a que cuida. O filho homem é o que visita.

Isso não quer dizer que eles não façam. Há muitos filhos que fazem até melhor. Mas a maioria é mulher.

Como a mulher já tem essa dificuldade de dizer não, somada a essa pressão cultural e social, essa situação pode ficar insustentável para ela.

Quando a mãe vai fazer 70, 80 anos, quem programa a festa é a filha, comenta Maria Ângela. E ela se sente na obrigação de programar alguma coisa para não passar em vão. Ela se culpa de estar trabalhando muito e não ter tempo de ir ver a mãe ou o pai.

E os pais, de certa forma, cobram. “Poxa, você nos abandonou. Há quanto tempo você não vem aqui”

Nunca é tarde para começar um processo terapêutico e buscar ajuda

Maria Ângela reforça que em qualquer idade é possível buscar ajuda através de um processo terapêutico. Só que é diferente.

Para pessoas mais velhas, não tem como ela voltar atrás e refazer as coisas. Então trabalha-se numa terapia de apoio: “vai descansar; fala que você não pode”. “Mas eu vou ficar descansando enquanto a minha filha está trabalhando muito? ” Vai. É o seu direito. Portanto é uma terapia de apoio, detalha Maria Ângela.

Para pessoas mais jovens é feita uma análise. “E por que você não quer falar não. Qual é essa dificuldade? ” explica Maria Ângela.

Na maturidade, Maria Ângela orienta: “você deve fazer isso. Você pode. É o seu direito”.  Elas se sentem mais empoderadas porque não foi ela quem falou, foi a terapeuta que recomendou.

Existem maneiras de falar não de forma mais positiva?

Tudo depende do tom. Da maneira de falar. Maria Ângela dá um exemplo de diferença dessa diferença numa situação com seus alunos de graduação. Um dizia “Você tem que tirar essa falta de mim. Peguei muito trânsito” um outro dizia: “Mari, por favor tira essa falta de mim, minha vida está muito atrapalhada”. Mari tirava a falta do que falava com gentileza.

Às vezes o NÃO pode até se transformar em brincadeira. O importante é não aumentar o tom de voz e não ser agressivo com a outra pessoa, não ofender. Essa é primeira regra.

Alguns aconselham, quando te pegam de surpresa, você pedir um tempo para pensar. Mas esse tempo não seja muito longo. Às vezes a pessoa pede um tempo e fica esperando até o outro desistir.

Saber estabelecer prioridades. É muito diferente se um vizinho chega e pede para levar no Pronto Socorro e uma pessoa que pede ajuda no trabalho que não concluiu porque ficou jogando.

Não ter medo do conflito. Ninguém quer receber o não. Mas conflito é o momento que chega para dizer o que se pensa. E colocar os limites.  Por exemplo: “Eu também não gosto que você faça isso”.  Crise ajuda a gente a colocar os limites. Não há relacionamento sem limites. “Não quero viajar assim. Não quero assistir esse filme. Enquanto você assiste o filme, eu leio. Entrar num acordo. Vou assistir um filme violento. Então vou ler”.

E não ficar arrumando desculpa. E quando a gente inventa desculpa é pior. A gente percebe que a pessoa está mentindo. E aí a situação é pior do que falar não.

A pessoa também pode começar com um elogio. Exemplos:

Comece dizendo: achei o tecido fabuloso, mas infelizmente não vou poder levar. A pessoa não fala que não gostou.  Não entra nessa discussão e responde: “gostaria de te ajudar, mas neste momento não posso. Gosto de estar com você, mas no momento não vai dar”, orienta Maria Angela.

O fundamental é equilibrar esse sim e não. Se a gente fica muito no não, a gente fica muito negativa, pessimista, desagradável. Assim como falar muito sim fica desagradável porque despersonaliza a pessoa.

Mensagem final da Maria Ângela Rossetto para as mulheres maduras:

“Respeite o seu tempo. Às vezes a gente não respeita o nosso tempo de vida. Dá para a gente realizar muitas coisas que não realizamos quando tínhamos que trabalhar e cuidar dos filhos. Ponha os seus sonhos à frente de tudo. Falar NÃO até para os familiares. Vá em busca daquilo que quer. Vá viver. Tenha o seu hobby. Tenha o seu momento. Aproveite isso. Senão a gente sente que a vida vai passando e vê que você continua do mesmo jeito: servindo.

Faça agora o que você gosta.

Quantas mulheres começam a dançar com mais de 50 anos e nunca aprenderam antes. Comece a fazer algo agora que nunca conseguiu fazer antes.

Reflita: quanto tempo tenho de vida útil. Se ela quer ir para a Europa e conhecer vários países, então melhor não deixar para ir mais para frente.

O tempo é extremamente importante. Se ela tem tempo é melhor fazer a musculação para poder ir para a Europa. E pode ir até os 80 anos.

“Tenho uma amiga de 91 anos que viaja sozinha por todo lugar. Foi para a Europa e depois irá para o Canadá ver o filho. Mas também não parou os exercícios.”

Vamos buscar nossos sonhos!

Contato com a Maria Angela Rosseto: através do e-mail: mac_rossetto@hotmail.com

Assista o bate papo integral da Fundadora da Estilo 5.0+, Cintia Yamamoto, com o Psicóloga Maria Angela Rossetto:

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Time Estilo 5.0+

Cintia Yamamoto Ruggiero

Sou apaixonada pelo tema Longevidade, curiosa e inquieta! Quero participar ativamente da revolução da longevidade e colocar o aprendizado profissional de mais de 30 anos e a experiência nas áreas de Negócios e Marketing para trazer conteúdos, produtos e serviços para as Mulheres 50+, conectadas, curiosas e interessadas!