Distúrbios da fala na maturidade. Assunto sério. Vamos conhecer?

Distúrbios da fala na maturidade

Os distúrbios da fala podem ocorrer em crianças, adultos e idosos. Mais frequentemente na maturidade com causas diversas.

O fonoaudiólogo é o profissional competente que pode ajudar o paciente a ter mais qualidade de vida, uma vida ativa na sociedade e dar apoio aos seus familiares.

Para falar sobre esse assunto sério e frequente, Cintia Yamamoto, fundadora da Estilo 5.0+ convidou a fonoaudióloga Carla Bogossian Remaili para nos ajudar a entender e conhecer como os distúrbios da fala podem afetar a nossa vida e dos nossos familiares e amigos. E como tratar.

Vamos conhecê-la?

Carla Bogossian Remaili é fonoaudióloga formada pela Faculdade São Camilo, com especialização e Mestrado em voz e Distúrbios da Comunicação humana pela UNIFESP. Fonoaudióloga particular, trabalha com alterações de voz, da fala e de deglutição em idosos há vinte e seis anos.

Quais são os distúrbios da fala mais comuns na maturidade

Carla começa explicando que as pessoas podem ter os distúrbios da fala em várias fases da vida.

Na infância são exemplos os distúrbios de atraso de fala, de trocas na fala ou distorções que é o que se vê com mais frequência.

Na idade adulta temos como exemplos maios frequentes os derrames cerebrais, conhecidos como AVC, os traumatismos crânios encefálicos, ou TCE, o Alzheimer, que é uma das demências mais comuns e que a maioria das pessoas conhece, ou já ouviu falar e o Parkinson. Ela comenta que essas alterações são um pouco diferenciadas.

O Alzheimer é uma doença que vem em caráter progressivo. A pessoa não começa a ter uma mudança de fala logo que ela desenvolve uma doença. Isso vem progredindo ou regredindo conforme o passar da doença.

No AVC ou um TCE a pessoa tem um mal súbito, uma alteração imediata e isso pode melhorar com o passar do tempo.

A Doença de Parkinson é uma doença de caráter motor que é conhecida por limites de movimentos, mas que afeta a fala também. As pessoas têm a movimentação labial e movimentação facial. O lábio não deixa de ser um movimento motor. Então há também a alteração de fala nas doenças de Parkinson, Carla complementa.

Carla reforça que existem muitas doenças da fala na idade mais madura e ela está comentando somente sobre as mais frequentes.

O impacto na capacidade de se comunicar pode gerar outros problemas

Carla lembra que para a pessoa se comunicar precisa de pelo menos duas pessoas.  O locutor e o interlocutor.

Ela explica que no caso de uma pessoa com demência, ela vai se isolando por diversos fatores. Pode ser porque ela tem uma alteração comportamental que pode vir com agressividade ou com isolamento ou com uma inabilidade emocional muito grande ou ainda pela dificuldade de se comunicar.

A pessoa com demência esquece de se comunicar, ela vai perdendo as habilidades funcionais do dia a dia. Ela se isola.  Ela deixa de falar. Os familiares, ou os cuidadores falam com o paciente somente o necessário e quando precisa. Por exemplo: você está se sentindo bem, você quer comer, tomar banho, mas não tem uma conversa, não existe uma comunicação. E aí a pessoa acaba tendo outros tipos de dificuldades. Que é a dificuldade de expressar o que ela está sentindo.

Pode vir uma depressão, pode vir uma tristeza profunda, choro, alguns  ficam agressivos. Imagina a pessoa querer se comunicar, contar como você se sente e não conseguir fazer o outro entender ou não se esforçar para entender a pessoa.

Carla faz uma analogia com a situação de uma criança gaga, por exemplo. “A mãe fala pela criança. A mãe não dá a chance da criança falar. Ou o outro não dá chance”.

Ela ressalta que é importante ter paciência, muita calma e muita habilidade para deixar essa pessoa se sentir confortável no ambiente que ela se encontra para expressar um desejo, ou mesmo um sentimento. Mas o que mais se percebe é esse isolamento social. A pessoa frequenta menos festas, reuniões sociais, e se vai numa festa na casa do filho, fica aquela meia horinha, dez minutos e já a levam embora. Isso é muito ruim, porque a pessoa se isola do mundo. Pode estar assistindo a TV mas não consegue participar ativamente. Ela não tem troca. A troca existe quando a gente tem pelo menos duas pessoas se comunicando, finaliza Carla.

 A importância do preparo das pessoas que cuidam e convivem com as pessoas que têm distúrbios da fala

No caso da demência, a fonoaudióloga consegue no início criar algumas rotinas.  Quando a pessoa não perdeu totalmente a função cognitiva dela, é possível elaborar calendários, lousas, avisos que podem ser colados e post it com recados e lembretes. Mas, mais fácil do que a comunicação gráfica, é desenvolver a comunicação visual, que é feita com figuras, explica Carla.

Figuras com pessoas comendo que expressam fome. Figuras com pessoas com frio, para comunicar que precisam colocar um agasalho, ou de um banheiro. Fotos para que a pessoa possa se lembrar e expressar a sua vontade e apontar o que ela quer falar.

É muito chato quando alguém fica perguntando o tempo todo: está com frio, está com sede? Quer ir ao banheiro? O que você quer? Devemos perguntar e dar a chance de ouvir. Se a pessoa não conseguir se expressar, usar gestos. O profissional de fonoaudiologia se expressa muito com as mãos justamente por isso.

O profissional capacitado, o fonoaudiólogo, pode fazer esses treinamentos. Não só com o paciente, mas com a pessoa que cuida dele.  O cuidador precisa aprender a cuidar. Não é simplesmente estar ao lado da pessoa. É participar ativamente.

Carla comenta a importância do preparo do cuidador porque ele é quem convive muito tempo e conhece melhor o paciente. Ele é a pessoa que informa o familiar como o paciente está, para o fonoaudiólogo, para o fisioterapeuta, para o médico.

Se o paciente não consegue se comunicar, ele transmite uma expressão facial que caracteriza um sentimento. O paciente com Alzheimer com o tempo vai perdendo a expressão facial. Mas se nota que ele ainda tem um olhar diferente, ou uma cara de dor, ou um braço mais fechado, e o profissional consegue ler esse paciente. Então isso é importante. O cuidador está lá para facilitar esse processo.

Entendendo os impactos das doenças neurológicas na fala

Carla responde: dentre as doenças neurológicas mais frequentes estão os AVCs: os hemorrágicos e os isquêmicos. Há a doença de Parkinson e os traumatismos crânio-encefálico que são os acidentes de carro, queda da própria altura, que são os traumas mesmo.

Os AVCs têm o que se chama de afasia de expressão e os de compreensão.  A de expressão é quando você tem a dificuldade de expressar o que você quer. E a de compreensão, quando você não compreende o que o outro fala. Quando a pessoa não compreende o que outra fala fica muito difícil para a se expressar. São os AVCS mais graves no sentido de uma reabilitação. Mas quando a pessoa tem uma dificuldade de expressão, que não consegue se comunicar, o fonoaudiólogo tem uma resposta mais rápida, consegue um acesso melhor ao paciente e uma aflição menor. Quando você não compreende a outra pessoa, fica tentando adivinhar. E aí o paciente fica extremamente irritado. Então o profissional usa a comunicação alternativa, mais visual, para os pacientes de AVC. Hoje em dia é tudo muito moderno, comenta Carla.

Há inclusive aplicativos no computador para usar como forma de comunicação com esses pacientes que não conseguem se expressar. E há os profissionais, que além de fonoaudiólogos, também capacitado em comunicação alternativa.

Há os pacientes tetraplégicos que se comunicam com um piscar de olho ou apontam para a tela. É bem interessante. Mas, no caso do AVC, o paciente fica muito aflito para conversar.

Então o trabalho vem todo não só em tentar fazer o paciente se comunicar, e se fazer entender, porque ele não está entendo nada e aí o profissional precisa dar dicas.

Por exemplo: dica simples: “Você quer comer?” E se mostra um prato de comida, um talher, uma panela, um tupperware, um saco de pão para ver se o paciente faz uma conexão e entende o que está sendo mostrado que é algo para se comer.

Para o paciente tentar entender o que você quer dizer são usados os gestos, gesticulação e os apontamentos para mostrar ao paciente o que o profissional quer saber.

No caso dos expressivos, há também os facilitadores, mas é necessário trabalhar muito a parte motora da fala. Esse AVC muitas vezes vem acompanhado não só de perda da fala, mas a perda de toda a funcionalidade facial.

A pessoa pode perder um movimento de língua, ter uma língua paralisada para um lado ou para o outro, ter uma diminuição de movimento, pode ter uma hipotonia, um desabamento muscular, e é sabido que se a pessoa tiver uma língua mais frouxa, vou estar assoprando mais para falar.

Se tiver uma língua perdida na boca, incoordenada, o som vai sair mais distorcido. Então antes de pensar em fala, tem que pensar em tudo o que envolve a fala. O som da voz, como que essa laringe está funcionando, a expressão facial, a língua. Então o fonoaudiólogo  começa um trabalho específico para chegar na fala, que é o objetivo alvo.

No Parkinson já é um pouquinho diferente. O Parkinson não perde a habilidade de se comunicar. Ele tem uma lentidão. É um paciente que tem uma alteração motora. Ele vai ficando lentificado para falar. Ele vai ficar mais lento para falar. E ele como é lento, junta mais saliva na boca. Como ele tem mais saliva na boca e não tem controle, ele engasga. E aí começam outras alterações que são a disfagia, que são as alterações da deglutição.

Há também nos AVCs. O AVC também pode vir acompanhado de disfagia. Mas o Parkinson é diferente, mais travado, mais rígido, por conta da doença mesmo. No AVC pode vir acompanhado pela doença acidental. Ela pode virar crônica se demorar para tratar.

Carla esclarece que a fonoaudiologia, no caso das demências, consegue melhorar a qualidade de vida da pessoa, mas não é possível regredir a doença.

E o Alzheimer não tem uma dificuldade de deglutição mecânica. Ele tem uma dificuldade funcional, por esquecimento. A fala vai ficando débil por dificuldade funcional. Ele esquece, ele esquece de falar, esquece de se movimentar. Por não usar os órgãos que ele tem, vai entrando numa atrofia. Ele vai esquecendo de usar uma habilidade funcional. A fonoaudióloga não quer que ele fale com ela. Ela quer que ele fale com a filha, que vá a reuniões, que seja funcional. Precisa estar ativo na sociedade.  Isso é muito importante.

Como identificar o momento correto para poder iniciar o tratamento com a fonoaudiologia

Carla esclarece que em alguns casos assim que o paciente é diagnosticado com a doença pelo médico e especialista, ou quando ele começa a dar alguns sinais de dificuldade de se comunicar, ou da voz alterada, a fono tem que entrar para melhorar a qualidade de vida o quanto antes.

Carla exemplifica que no caso de um paciente com Alzheimer com 85 anos, com dieta já adaptada e sem fala, já não é possível trabalhar com essa pessoa. Da mesma maneira, não é possível desenvolver a fala de um paciente que já não tenha contato visual, não se manifesta, não compactua. É possível mudar a alimentação dele.

Quanto antes o paciente iniciar o tratamento, estará mais ativo pelo período que ele puder. É possível prolongar o tempo de comunicação, de participação na sociedade ou com a família, finaliza Carla. 

A importância da fonoaudiologia na funcionalidade da deglutição

Carla explica que a deglutição começa desde que o alimento entra na boca, até o momento em que estiver no estômago.

Ela cita o exemplo de um paciente que teve AVC com paralisia facial e está com a boca mais torta, vai ter uma dificuldade de manter esse alimento na boca porque conforme vai mastigando e ingerindo, o alimento vai escapar  porque não tem o pressionamento dos lábios. Nesse caso, o fonoaudiólogo vai fazer algumas adaptações.

Não só da parte facial que vai trabalhar essa paralisia, mas também da consistência do alimento. O fono testa com o paciente as consistências líquida, pastosa a semissólida, a sólida, para ver o que ele consegue engolir melhor. No caso da paralisia, se o alimento escapa ou se ele também engasga.

O paciente tem uma alteração de laringe? Tem uma alteração mecânica que mexeu na anatomia de laringe? É aí que o fonoaudiólogo entra. O ato de engolir não é só comer. Ele envolve captar o alimento, se ele come com a boca fechada, ninguém consegue engolir com a boca mais aberta. A língua tem que jogar o alimento de um lado para o outro e tem que fazer força para esse alimento descer. E depois que desce precisa estar com a laringe funcionante.

É muito lindo o trabalho da fonoaudióloga porque a laringe serve para várias funções. Se respira, ela está aberta para entrar o ar, quando a pessoa, fala ela está se movimentando. A prega bucal é articulada com a fala. E para engolir a laringe fecha para proteger o seu pulmão.

“A gente não consegue isolar uma coisa da outra.  Tem que trabalhar a alimentação. Trabalho a laringe e os órgãos da face. Na parte da alimentação, temos a nutricionista. Esse não é o nosso papel. A nutricionista vai avaliar o que o paciente deve comer de maneira balanceada. O nosso papel é trabalhar a consistência do alimento e fazer as adaptações. O paciente não consegue engolir um líquido fino, ralo, eu espesso. Ele não consegue tomar uma sopa em pedaços, eu deixo pastosa”, esclarece Carla.

 O envelhecimento pode gerar distúrbio na fala

Assim como o nosso corpo, a nossa laringe também envelhece. Por exemplo, a pessoa madura pode ter a alteração de voz chamada de presbifonia pela idade e uma dificuldade de deglutição por idade. A pessoa pode não ter nenhuma doença neurológica ou crônica, mas ela tem uma dificuldade pela idade, detalha Carla.

Os dentes mudam. As pessoas perdem a força mastigatória e a força muscular. Esse paciente nunca precisou de atendimento de fonoaudiólogo e não é com 85 que ele vai conseguir fazer uma mudança na musculatura. A laringe vai se arqueando mais com o tempo. Mais possibilidades de tossir durante uma refeição. A sensibilidade muda. A pessoa pode ter mais ou menos sensibilidade. Geralmente pode ter maior sensibilidade para o doce ou salgado, para o quente ou para o frio. Há pacientes que não têm nada, mas têm idade.

Carla comenta que temos que ficar muito atentos quando começamos a ter algumas dificuldades. Por exemplo, pessoas com 60 anos que engasgam com água.  Percebe que se deita um pouco mais para assistir TV, tem mais dificuldade para engolir. Tem tosse com pimenta. Ela deve ver o que está errado. É a sua postura para se alimentar? Ou tem mais sensibilidade? Outro exemplo, uma pessoa que tem mais flacidez tanto de corpo quanto da musculatura facial.

Ou por exemplo as pessoas que roncam. Por que as pessoas roncam?  Precisam fortalecer a musculatura?  Não é só o uso de aparelho. Porque ele ronca? Porque ele está obeso, porque essa língua está tão flácida que desaba, e aí fecha as vias áreas ou ele tem apneia.  Mas assim como trabalhar com o corpo, também tem que trabalhar com prevenções sim.

Dicas da Carla Bogossian Remaili de cuidados com a comunicação, voz e deglutição

  • Não deixe de notar os seus pais, os seus parentes e os seus amigos. Nunca ache que qualquer coisinha é qualquer coisinha.
  • Nunca menospreze uma dificuldade que para você pode ser pequena, mas que para o outro é muito importante. Coloque-se no lugar do outro. É muito desagradável você tossir na frente de alguém. Você quer sair da mesa, se sente mal e envergonhado. Seja porque você tem uma disfagia ou porque você tem um refluxo por exemplo. E a pimenta entrou no local errado ou se têm a voz mais rouca, a voz falha. É chato você estar conversando e no meio da conversa você tem que tomar uma água, chupar uma bala ou você quer falar com alguém e não consegue.
  • Ter paciência e calma com as pessoas que tem dificuldade de se comunicar. Imagina que a pessoa quer conversar, quer passar uma mensagem e não é compreendida. Imagina para quem não tem nenhuma alteração evidente como é difícil não se comunicar, não estar bem. Quando a pessoa não está bem, cancela a reunião. Ela não consegue falar com uma simples laringite, imagina para o outro que teve um AVC, que tem um Parkinson ou que tem uma demência, com pensamento ativo e querendo contar alguma coisa e não consegue.
  • Fiquem atentos aos idosos, porque a gente também vai ser idoso um dia. O que a deixa mais triste na profissão muitas vezes é o abandono familiar e a negligência. A negligência no sentido de realmente achar que isso é besteira, que isso vai passar. “Ah ele está velho, não vai resolver mesmo”. Dói porque é possível melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. A gente faz ginástica para melhorar a qualidade de vida lá no futuro. A gente se alimenta bem para ter saúde. E a gente faz fonoterapia para também conseguir se comunicar. Para a gente conseguir comer com qualidade, ir numa festa e conseguir comer um pedaço de pizza.
  • Fiquem atentos. Conversem e questionem. Tirem dúvidas com os profissionais que vocês conhecem.

Contatos da Carla Bogossian Remaili

E-mail:  Carla.remaili@yahoo.com.br

Celular: 11 98892-2701.

Assista o bate papo integral da Fundadora da Estilo 5.0+, Cintia Yamamoto, com a Fonoaudióloga Carla Bogossian Remaili:

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