Isabel Galvanese: Simplificar e viver com mais profundidade.

O amor a arte e a natureza transformando a vida com Isabel Galvanese

A vida das pessoas se tornou complicada com tantas atividades e obrigações.

Cintia Yamamoto, fundadora da Estilo 5.0+ convidou a Ceramista e Artista Plástica Isabel Galvanese, a Bel, para nos contar como iluminou a sua vida e descobriu na arte e na simplicidade, a alegria de viver.

Isabel Galvanese é Ceramista e Artista Plástica há 23 anos e Ilustradora há 9 anos. Trabalhou por 20 anos no ateliê do artista plástico Antônio Carelli, no grupo Desenho Vivo.

Ela é formada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo , estudou cerâmica com a ceramista Mieko Ukesek de Cunha.

Atualmente está fazendo pós em mediação de leitura infanto juvenil no Vera cruz.

Bel tem trabalhos de arte urbana espalhados pela cidade de São Sebastião, sendo o último, a peça Conceição premiada no PROAC programa de ação cultural do governo de SP.

Como foi o processo de mudança dessa paulistana para São Sebastião, no litoral norte de São Paulo?

Bel escolheu há muito tempo a cidade de São Sebastião como sua cidade do coração. Ela conta que tudo começou porque é casada com o Eduardo que é velejador e seu marido se classificou para as Olimpíadas de Barcelona em 1992.

Naquela época foi o último ano que esse esporte nas Olimpíadas era um esporte amador, então não tinham dinheiro nenhum. Tiveram que se inventar para treinar. Bel explica que o canal de São Sebastião é maravilhoso para vela. Venta muito e seu marido quis treinar antes de ir para Barcelona. Bel foi acompanhá-lo e acabaram se encantando pela cidade e viram a possibilidade de morar em São Sebastião.

Na época, Bel trabalhava em São Paulo com arranjos florais e jardins e tinha algumas clientes em São Sebastião e resolveu começar com essas clientes e seguir na área da jardinagem na cidade.

“Mudamos na cara e na coragem para essa cidade que é maravilhosa. No começo não foi fácil. Morar em São Paulo a gente vive em alguns guetos e as pessoas que estão a nossa volta pensam como a gente, você estuda na mesma escola é tudo meio previsível e aí mudar para uma cidade pequena e ainda mais São Sebastião que recebe gente de São José dos Campos, do interior de outros lugares. Tem a Petrobrás aqui, então tem muita gente do Rio de Janeiro. E aí são cabeças completamente diferentes, então no começo eu me assustei um pouco, mas depois eu descobri que quem era chata era eu mesma.

E aí eu me abri para as outras pessoas e foi muito legal. Mudei muito morando aqui e foi uma mudança muito interessante.” declara Bel.

Bel lembra da sua formação como bióloga, apesar de nunca ter trabalhado diretamente nessa área, ela diz que foi muito importante ter feito esse curso.

Em São Sebastião ela foi procurar os biólogos e conheceu uma bióloga maravilhosa, a Patrícia Blaut que foi quem ensinou todas as coisas relacionadas ao meio ambiente para a Bel.

Patricia Blaut foi a responsável por implantar a primeira coleta seletiva no Brasil que aconteceu em São Sebastião antes mesmo de Curitiba há quase trinta anos.

Como surgiu a paixão de Bel pelas artes

“Eu acho que eu sempre tive a paixão pelas artes, só não sabia. Então quando eu fui prestar biologia é porque gostava muito da natureza. Então  passei pelo curso assim gostando do que estava vendo, mas não me imaginando nem como cientista nem como professora. Eu só admirava aquilo” reflete Bel.

Um dia em São Sebastião, ela estava numa sorveteria famosa de São Sebastião, a Sorveteria Rocha, quando um amigo de um amigo comentou que estava vendendo um torno e se alguém queria comprar.

Imediatamente Bel respondeu: eu quero comprar. E na verdade ela não sabia nem o que fazia um torno, não tinha dinheiro para comprar, mas comprou e foi aí o começo da cerâmica. Ela comprou e ganhou as dez primeiras aulas e, em seguida, foi pra Cunha. E foi assim uma emoção muito forte. Sabe quando você encontra aquilo que você queria fazer e daí vai desenvolvendo toda a sua parte artística. Foi a partir de uma inspiração de momento que caiu bem e virei ceramista”, relembra Bel.

Há 23 anos Bel faz cerâmica. Ela explica para as seguidoras da Estilo 5.0+ que não conhecem muito sobre a cerâmica, que ela vem do barro e se transforma com as queimas e existem vários tipos de queima. Bel começou com um forno elétrico, que é o tipo de queima mais simples possível, parece um micro-ondas, apita quando está pronto.

Hoje ela faz a queima à lenha. Um processo que leva 13 horas, em média, colocando lenha sem parar, suando muito, mas que na sua opinião traz o resultado mais bonito porque as labaredas da chama pintam o trabalho. “Eu falo que pinto com fogo e não com tinta” complementa Bel.

Bel comenta que em realmente existem eventos de abertura de fornos em Cunha e ela já participou, mas ela mesma não tem coragem de abrir um forno na frente dos outros porque sai muita coisa errada. Às vezes ela até chora…depois de 13 horas…cansada e suada.

Atualmente Bel desenvolve diferentes técnicas no mundo das artes, não só a cerâmica mas também a pintura, escultura, ilustração e escrita. Ela explica que para desenvolver cada uma delas, novamente foi com a cara e com a coragem. Se jogou de cabeça. Por isso ela entende que chora quando abre o forno. É vontade de fazer.

Ela comenta que essas técnicas parecem coisas muito diferentes, mas a semelhança que há entre todas elas, no que se baseia é o desenho. Então tanto para escultura, como para cerâmica, para ilustração e também até para escrever tem a ver com a questão da imagem.

O desenho é o principal motor. Ela começou fazendo cerâmica, depois foi para a pintura, depois do desenho com o mestre Antônio Carelli, se jogou no ateliê dele. Ele já sabia pintar e ela não sabia nem como segurar o pincel. E nisso foram criando juntos. E depois ela aprendeu o mosaico com ele, porque ele é um mosaicista famoso e maravilhoso.

O primeiro mosaico da Bel foi inspirado numa pescadora de siris da região, Dona Druzilla, que já morreu e era uma mulher incrível, uma pessoa que fazia aquilo que gostava muito profundamente.

Bel a viu apenas uma vez e já se envolveu. Então Bel fez um desenho inspirado na Dona Druzilla. E daí um grande mosaico dela, com 1,20m x 1,20m, que hoje está na biblioteca municipal de São Sebastião e que a prefeitura acabou comprando.

E quando Bel foi revelar as fotos que fez desse trabalho as pessoas comentavam: “eu conheço a Dona Druzilla, ela fez isso, fez aquilo” e aí não teve como não escrever um livro sobre ela. O livro veio na loucura. E gerou um novo aprendizado: foi aprender como ilustrava.

E aí fez o livro “O Segredo de Druzilla, a encantadora de siris”.

O Segredo de Druzilla

Foi um super sucesso. Demorou um pouco para conseguir uma editora que quisesse publicar o livro, mas um dia aconteceu de encontrar um escritor que morava lá perto na Praia de Guaecá e que levou o livro para a editora dele e fez a impressão.

O livro foi adotado pelo governo federal e vendeu um monte de cópias. Bel fala com crianças que estão em Recife por causa desse livro e no interior de São Paulo.

“Então o livro aconteceu assim. Pelo caminho completamente inverso.” complementa Bel.

Agora Bel está fazendo Pós-Graduação em literatura infanto-juvenil e realmente gosta muito dessa área. Gosta muito de crianças, de desenhar, de trocar quando o livro está pronto.  Ela se considera a velhinha da turma convivendo com meninas de 30 anos com filho pequeno. Muito gostoso fazer essa Pós, Bel declara.

Nossa Sra. Da Conceição – Obra da Bel

Bel explica que São Sebastião é uma cidade histórica, tem 8 quarteirões tombados pelo patrimônio histórico, 2 casas que são tombadas a nível Federal e o município tombou 12 ou 14 capelinhas antigas da época de 1800.

A capela de Toque Toque Grande, uma praia de São Sebastião, ia fazer 100 anos e o pessoal do patrimônio perguntou se ela gostaria de fazer uma obra em homenagem à padroeira da capela, que é Nossa Sra. Da Conceição, a Santa grávida do menino Jesus.

Bel, fez toda a pesquisa e decidiu fazer a Obra comemorativa com a Santa grávida, mas explica que depois que fez soube que foi muito ousada porque você não encontra nenhuma Nossa Senhora da Conceição visivelmente grávida. A Santa também tem uma conexão com a lua e as estrelas, ícones que estão presentes também na Obra, assim como sua homenagem a vila de pescadores com a auréola toda cheia de peixes.

Bel continua…“como a cerâmica demora muito, a pessoa fala que quer o trabalho e já começo a fazer, mesmo que não tenha contratado, nem pagou, não fez nada. E aí veio a pandemia e deu tudo errado e não teve inauguração. E fiquei com a peça aqui no meu ateliê. É uma peça grande tinha que ficar andando em volta”.

Então ela resolveu se inscrever no PROAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo. Ela se inscreveu para fazer um filme sobre a colocação da peça da Nossa Sra. Da Conceição.  Foi olhar o resultado, não esperava mesmo ganhar e para sua surpresa ganhou uma verba para fazer o filme que ficou lindo. Mostrando todo o processo até a colocação da peça. E aí ela pensou: “agora é só colocar a peça e filmar”.

Mas não foi simples assim. A pessoa não coloca uma peça na casa de alguém, ou na praia de alguém. Precisa falar com o pessoal da igreja, com os pescadores, aí aconteceu uma reforma na igreja, troca de iluminação, uma coisa monstruosa que ela se envolveu, mas foi legal porque estudou mais a história. Hoje em dia ela conhece todo mundo na região. “É um projeto que vou guardar no coração para sempre” reflete Bel.

O envolvimento com as questões ambientais

Bel relembra que aprendeu muita coisa com a sua amiga Patricia Blaut, bióloga que, na sua opinião, quase não deixa impacto ambiental no mundo.

A Bel e o marido têm uma pousada na região, a Pousada Sesmaria. Então ela chamou a Patricia para rever toda a questão do lixo da pousada. E fizeram realmente como os biólogos fazem: uma pesquisa mesmo. Antes de iniciar, pesaram todo o lixo que a pousada produzia, ponto a ponto e o resultado ficou incrível.

Bel compartilha: “Só para você saber, quando a gente começou o projeto, a gente gastava 6 caminhões de lixo por ano indo para o lixão. Quando a gente terminou o processo fazendo tudo o que precisava, não tem nada descartável, no frigobar não tem nenhuma latinha e passaram para 1 caminhão de lixo por ano”.

Bel continua: “nenhuma parte orgânica vai para o lixo. Compostamos tudo. A parte disso, vai muita coisa para a reciclagem. E isso já começou a mudar a nossa ideia”.

Bel comenta sobre um ano em que ela e o marido foram andar de bicicleta na Europa. E aí ficaram conversando sobre andar somente de bicicleta. É tão gostoso. Além de super ecológico, você cumprimenta as pessoas. Parece que você toma a cidade para você. Então pensaram:  vamos tentar andar só de bicicleta. Aí trouxeram 2 bicicletas.

E na volta, sem consultar o marido, foi na concessionária e vendeu o carro deles, mas depois de um tempo chegaram a conclusão que precisariam do carro para algumas coisas como por exemplo para viajar e hoje eles compartilham um carro com a vizinha que tem a mesma linha de conduta há 10 anos. Compraram juntas um carro. Na hora de fazer o seguro a corretora comentou: nossa isso nunca aconteceu, uma pessoa que compartilha o carro com a vizinha.

Então foi uma mudança total. Essa mudança para andar de bicicleta aconteceu de promoverem várias bicicletadas para a cidade ter uma ciclovia. Que finalmente veio.  Houve um prefeito que recapeou toda a avenida e sem avisar, mas a Bel ficou pensando que poderia haver uma   ciclovia. Uma manhã, saindo para o yoga, viram finalmente a ciclovia. Uma emoção quase de parto. Andar nessa ciclovia toda linda. Antigamente costumavam contar o número de pessoas que pedalavam.  Agora tem muita gente na ciclovia.

Outra mudança que fizeram nas suas vidas: comprar as roupas que duram mais, comprar em brechó. Pequenas coisas que vão mudando em suas vidas.

Ela brinca com a sua mãe dizendo que é a ovelha verde da família. E não a ovelha negra. Mas sem ser muito chata.

Aprendizados e Dicas da Bel

“De aprendizado na vida, a gente acerta e erra. A coisa de coragem é que fez toda a diferença. Mudar de uma cidade, se abrir para outras pessoas. Abertura, coragem, humildade. A gente vai errando e vai fazendo, não é perfeito, mas é uma maneira alegre de viver. Aceitando as fases do tempo, a gente já não pode fazer tanto, mas vai levando” reflete Bel.

Dica da Bel para quem quer aprender arte – acha que a melhor maneira de aprender arte, se a pessoa tiver abertura, é entrar num ateliê. Visitar um ateliê, ela começou assim. Ver como trabalham e perceber como se vê nisso. Aí tem uma chaminha lá dentro que já vai dizer: disso eu gosto, disso não.

Bel dá aula para um senhor de 75 anos que quer aprender a desenhar. E é incrível. “Qualquer idade a gente pode sonhar. Não importa onde vai chegar. Vai, mete as caras. Se perde por aí.”

Bel recomenda: “Tira um dia para fazer isso. Entrar num ateliê. É a cerâmica. Ou na pintura. Uma coisa vai puxando a outra. Tem que ter coragem de começar. Não pode ficar pensando. O máximo que pode acontecer é dar errado. E aí começa tudo de novo. Quando a gente já errou fica mais fácil. Se você nunca errou, fica mais difícil”.

No início Bel queria aprender como queimar com lenha. Foi num ateliê de um japonês e achou que ele ia dar umas dicas. E ele não falou nada. Voltou lá mais 3 vezes e o japonês não dizia nada. Depois ela estudando e formulando as perguntas adequadas e aí ele foi dando as dicas. Depois de uma conversa de 2 horas ele falou: pode fazer que vai dar certo.

Esse processo de ir lá, voltar, até fazer as perguntas certas, demorou muito.

Mensagem da Bel para as seguidoras da Estilo 5.0+:

“Uma coisa que já fiz que acho que é legal. Quando a gente vai ficando mais velha, é simplificar a vida. Enxugar. Deixar a sua vida mais fácil. Isso é muito importante”.

Dica da Bel: “lidar melhor com o tempo. No sentido de que estamos correndo muito atrás do rabo, uma coisa muito atarefada, ninguém tem tempo para nada. E o tempo é tão precioso para a gente celebrar.

E falo para mim primeiro. E para todo mundo que a gente tem que lidar melhor com o tempo.

Desacelerar ou então entrar mais em profundidade nas coisas.

Não fazer tantas coisas. A gente já está sentindo que a vida é rápida.

Não tem tanto tempo. E que esse tempo que sobrar seja um tempo mais de qualidade.

Uma coisa que a gente tem que correr atrás: simplificar e viver mais em profundidade.

Essa coisa do celular, da internet, das mídias sociais, roubam um tempo precioso. Temos que aprender a lidar melhor com isso. Não é que seja ruim. Mas não pode ser todo o tempo”, finaliza Bel.

Algumas informações sobre os projetos da Bel:

  • Documentário Capela Toque Toque Grande – Nossa Senhora da Conceição

  • Ilustrações – Treboada – Neide Palumbo

  • Panela de Presson

  • Trazon

  • Ibama

  1. Foto da Cintia com a escultura Conceição em Toque Toque

Conceição

  1. Livro: O Segredo de Druzilla, a encantadora de siris.

O Segredo de Druzilla

Contatos

Instagram – @belgalvanese

E-mail – igalvanes@uol.com.br

Instagram – @pousada_da_sesmaria

Assista o bate papo completo com Isabel Galvanese (Bel) na íntegra:

Venha participar da jornada da revolução da Longevidade com a gente!

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Um abraço!

Time Estilo 5.0+

 

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