A menopausa, fase natural da vida da mulher, marca o fim da menstruação e da fertilidade. Para muitas, ela pode vir acompanhada de várias mudanças físicas e emocionais, incluindo alterações na libido que podem afetar a vida a dois.
A Estilo 5.0+ entrevistou a Dra. Claudia Takano, ginecologista e obstetra para saber mais sobre esse tema e entender melhor essa fase complexa das nossas vidas. Transcrevemos aqui alguns trechos da entrevista.
A Dra. Claudia Takano é Médica Ginecologista e Obstetra com Graduação, Mestrado e Doutorado pela Escola Paulista de Medicina/ Unifesp. Preceptora do Ambulatório de Uroginecologia, Coordenadora do Ambulatório de Malformações Genitais da Unifesp e Preceptora dos alunos da graduação do curso de medicina e da residência em Ginecologia- Unifesp.
Menopausa e os impactos na libido
Cada mulher vivencia a menopausa de forma única, e os efeitos na libido variam consideravelmente. A Dra Claudia explica que nem todas as mulheres sentem o impacto da libido na menopausa, varia de mulher para mulher e salienta que a sexualidade é um assunto complexo e depende de vários fatores.
A parte biológica da sexualidade pode ser afetada nesse período da perimenopausa e da pós menopausa pela queda dos hormônios, tanto da progesterona como dos estrogênios. A menopausa é uma fase na vida de uma mulher, complementa ela.
Mas a gente tem que pensar que a sexualidade também depende de outros fatores. Ela é desenvolvida ao longo da vida da mulher, desde lá no comecinho da vida, infância, adolescência e durante a experiência ao longo da vida. Há fatores sócio culturais, educação, aspectos de saúde, dentre outros que podem ter impactado essa fase e até mesmo do relacionamento que pode estar numa nova fase, dos filhos que já não dependem tanto da mãe, enfim, tudo isso tem influência.
Para quem sente um declínio na libido durante a menopausa, diversas causas podem estar em jogo, além da queda hormonal. Destacamos aqui alguns deles:
- Fatores psicológicos: estresse, ansiedade, depressão e baixa autoestima até mesmo com eventuais mudanças que possam estar ocorrendo com o corpo, enfim tudo isso podem influenciar as orientações do desejo sexual.
- Problemas de saúde: doenças crônicas como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos podem afetar a libido.
- Medicação: alguns medicamentos podem ter efeitos colaterais que diminuem o desejo sexual.
- Mudanças no relacionamento: problemas no relacionamento, falta de comunicação e intimidação podem contribuir para a diminuição da libido.
Quanto ao fator biológico, a Dra. Claudia detalha que a queda hormonal pode ter sim impacto de duas formas:
- O estrogênio e a progesterona estão diminuídos nessa fase e podem afetar o desejo sexual. Ambos impactam na queda da dopamina que é o neurotransmissor que está relacionado ao desejo. Há um fator biológico sim, mas nós percebemos que se a mulher já tinha uma vida sexual satisfatória, ela pode ter pouco impacto. Sabemos que essa parte começa toda na mente porque o desejo feminino tem um forte componente psicológico.
- A diminuição do estrogênio pode causar uma redução na lubrificação, ressecamento vaginal, menor elasticidade da mucosa vaginal, menor resposta aos estímulos por uma menor vascularização. Tudo isso pode impactar a relação, porque fica mais desconfortável e dolorosa, dificultando a fase da excitação.
Portanto, como vimos, o impacto na libido é complexo e depende de vários fatores e existem várias maneiras, de acordo com cada mulher, para lidar com a situação.
Lubrificação e hidratação vaginal – Coisas diferentes
No passado falávamos mais sobre lubrificantes. Substâncias que precisávamos usar na hora da relação sexual, da penetração vaginal, para que seja menos desconfortável, explica a Dra Claudia.
Os hidratantes, por sua vez, são substâncias para ser utilizados de forma mais contínua e não na hora do ato sexual. A função é hidratar. Aumentar a retenção de água. Não tem efeito tão imediato, é para ser usado ao longo do tempo.
A mulher pode usar o hidratante uma vez por semana e o lubrificante, no momento da relação sexual. Para entender qual a melhor solução é preciso buscar orientação do seu médico ginecologista.
Tipos de tratamento para a falta de libido na menopausa
Dra. Claudia comenta que o tratamento começa com uma avaliação adequada. Avaliar a queixa. Se já havia alguma questão antes dessa fase da menopausa, provavelmente a mulher será mais impactada. Alguns cenários:
- Analisar se já existiam problemas de relacionamento antes da fase da menopausa – No passado, essa mulher talvez estivesse mais envolvida com outras questões, como filhos, trabalho por exemplo, mas agora isso se tornou mais importante. Neste caso talvez analisar se seria interessante um tratamento direcionado a psicoterapia.
A Dra. Claudia sugere verificar se há outras questões no ambiente do casal que pode estar afetando o relacionamento antes de iniciar o tratamento.
É uma situação muito individual. Como era a sexualidade antes e como esses fatores podem estar afetando de forma mais importante. A menopausa pode ter deixado o problema mais evidente, mas pode não ser a principal causa.
- Estava tudo certinho e aí mudou com a menopausa – Com o início da fase da menopausa está tendo mais dificuldade de excitação e na fase do orgasmo?
Sendo descartadas as outras hipóteses, além do uso dos hidratantes e lubrificantes, hoje é possível a aplicação de hormônio local que dificilmente tem contra indicação. Hoje, dependendo da formulação, o nível de absorção sistêmica não é considerado significativo.
A aplicação vai causar um efeito local e tornar esse tecido como era anteriormente à menopausa, melhorando o desconforto e a excitação, com mais aporte sanguíneo que pode fazer a diferença para o prazer.
- Desconforto na hora da relação e redução da libido – Neste caso talvez ela precise de uma reposição hormonal sistêmica. Importante conversar, ver se não há contraindicação e é possível iniciar com uma reposição estrogênica. Pode melhorar a libido, o desejo e atuar na dopamina.
Se caso a queixa persistir, mesmo após a reposição estrogênica, pode ser feita a reposição da testosterona.
Pode ser feita escalonada e individualizada. Não há uma fórmula geral.
Outra opção para melhorar o trofismo vaginal e da vulva que não envolvem medicamentos é o uso de aparelhos de alta frequência e laser, sugere a Dra. Claudia.
Caso a mulher não tenha se adaptado aos outros tratamentos e está sentindo o tecido mais fino, pode tentar os aparelhos de alta frequência e laser para a produção de colágeno na região.
O importante é que toda mulher que tiver uma queixa relacionada a queda da libido, deve conversar com seu médico que irá identificar qual o melhor tratamento para ela.
Falar sobre o relacionamento do casal ainda é um tabu?
Dra. Claudia diz que, felizmente, está assistindo uma mudança no consultório e que cada vez mais mulheres tem abordado o tema da libido e sobre o relacionamento do casal, o que facilita o direcionamento do tratamento mais adequado.
Muitas mulheres enxergam o período da menopausa de forma diferente. Chegam com uma queixa, querem melhorar e não querem que a menopausa tenha um impacto negativo em suas vidas.
A Dra. Claudia enxerga várias mulheres diferentes; cada uma com a sua situação específica. Na opinião dela essa reclamação de sexualidade só deve ser tratada se for uma queixa. “Não estou com desejo, mas não está me incomodando. Se não é um problema para o casal, não precisa ser tratado”.
A condição de longevidade, de condição física, torna o tema mais importante para o relacionamento.
Outra mudança que a Dra Claudia tem percebido no consultório é que tem sido mais comum as conversas sobre os produtos sensuais para ajudar nessa fase da mulher e estimular a libido.
As mulheres mais maduras ainda têm um pouco de timidez, mas as mulheres mais jovens normalmente já têm acesso e conhecem bastante sobre o tema.
Existem algumas soluções que também podem ajudar na retomada da libido, afinal o desejo sexual é multifatorial. Vale fazer atividade física, cuidar de sua saúde mental, trabalhar questões de relacionamento, fantasias, tempo dedicado à vida sexual e ou até mesmo avaliar a necessidade de profissionais treinados para terapia sexual
Assista a entrevista da Dra. Claudia Takano na íntegra: Acesse:
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Time Estilo 5.0+
Fontes:
https://super.abril.com.br/coluna/oraculo/por-que-a-menopausa-afeta-o-desejo-sexual
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