Perfeccionismo: qualidade ou defeito?

perfeccionismo - qualidade ou defeito

Perfeccionismo: o bom é inimigo do ótimo?

Muitas vezes o perfeccionismo pode ser reconhecido como de uma pessoa com muita iniciativa e que busca pela qualidade em tudo o que faz.

Mas pode se tornar uma causa de muito sofrimento se a pessoa não atingir o padrão idealizado.

O bom é inimigo do ótimo pode trazer um conceito de fazer o que for possível e relaxar. Ou, deixar de se atormentar para um padrão excessivamente alto e entregar o que for possível.

O perfeccionismo se tornou quase uma obsessão nos dias de hoje com as imagens de perfeição no mundo virtual: gente linda, magra e feliz nas redes sociais.

Para conversar com a gente sobre esse tema, a fundadora da Estilo 5.0+, Cintia Yamamoto, convidou a psicóloga Angélica Samarco.

Angélica Samarco é psicóloga clínica há 26 anos. Ela utiliza métodos que combinam várias abordagens, como o Coaching Holístico, Constelação Familiar, Análise Transacional, Gestalt Terapia e Psicossomática.

Vamos ouvir como ela pode nos elucidar nesse tema.

O que é uma pessoa perfeccionista do ponto de vista da psicologia?

Segundo Angélica, a pessoa perfeccionista tem um comportamento compulsivo na busca constante da perfeição. São pessoas extremamente minuciosas, detalhistas, com alto padrão de exigência. Têm a tendência de quase nunca aprovar totalmente um comportamento que elas tenham tido porque sempre acham que poderia ter sido melhor. Não admitem os erros. O padrão de expectativa fica sempre acima do resultado.

Têm um traço de cobrança constante, consigo mesmas e com os outros e com o mundo. Se tornam muito críticas com elas e com os outros. Têm muitas dificuldades em se aceitar.

Evitam de todas as formas a possibilidade da rejeição e da crítica. Todo o movimento do perfeccionista é a busca da perfeição para a aceitação. E tentam todo o tempo evitar a rejeição. “Vou fazer o máximo para ser aceito”. Essa é a busca do perfeccionista.

A pessoa nasce perfeccionista ou se torna perfeccionista?

Angélica explica que a gente pode olhar de dois aspectos. Um deles é a herança genética. Quando se olha a constelação familiar, vimos a lealdade aos antepassados e a pessoa pode vir com essa inclinação. Mas, a Angélica acredita mais no meio ambiente em que a pessoa irá conviver durante a vida e as influências que irá receber. Porque o bebê nasce em equilíbrio, espontâneo, veio para a vida.

Angélica questiona: por que os pais fazem esse movimento do “por que você tirou 7 e não tirou 10?…” por que você não arrumou direito? ” Por que você não fez melhor? O que está por trás desse pai e dessa mãe que estão exigindo tanto? É o medo. O medo de que o filho se frustre e não seja feliz. Então exigem uma alta performance para que ele seja feliz. É uma baita crença de que a alta performance vai gerar felicidade. E ficar isento da tristeza e do medo.

Dentro da análise transacional, há um impulsor que os pais passam inconscientemente para o filho para que ele seja perfeito. Faça o seu melhor. Tire 10.

Os jovens atualmente estão num sofrimento muito grande. Esse mundo novo de internet e redes sociais, onde estamos sempre expostos. O padrão de exigência que os jovens esperam é muito alto. É muita competitividade. Sentem que para se inserirem no grupo precisam ser perfeitos, tanto do ponto de vista plástico como social.

Tudo isto gera um grande prejuízo e muitos jovens vão para uma situação de incapacidade, comenta Angélica, “já que não sou tão bonita quanto a moça do insta, nem vou tentar. Nem vou”. E isso gera muita ansiedade, depressão e até suicídios. O padrão de expectativa é muito alto.

Quando o perfeccionismo se torna um problema e há um lado bom?

Angélica responde que ela, particularmente, não acredita num lado positivo do perfeccionismo e explica que na análise transacional, o “seja perfeito”, aprisiona o ser humano porque não pode se expressar, precisa estar dentro de um ritual, desta atitude de ser perfeito.

Ela acredita que há uma outra forma de estimular a pessoa, usando a sua determinação, o seu desejo, a vontade de querer fazer o melhor, gastar a energia no que está fazendo mas com o seu desejo e não com a crença interna de que precisa fazer o máximo pra ser aceito e não ser rejeitado.

Á medida em que a pessoa gosta e acredita em si mesma, pode fazer o melhor. Pode até ficar triste com alguma crítica, mas avalia e segue em frente. O problema com o perfeccionista é que ele não aceita a crítica. O perfeccionista nunca vai aprovar o que ele faz. Ele se desqualifica. E não se apropria daquilo. A auto estima não existe.

O que uma pessoa pode fazer para lidar com essa necessidade do perfeccionismo quando ela mesma sofre?

Uma sugestão da Angélica é justamente buscar um processo terapêutico, um profissional que possa ajudar. A pessoa está num movimento de crença dentro dela. Tomar consciência da origem disso. Á medida em que ela toma consciência e compreende o por que, ela começa a se ver naquele lugar e pode começar a negociar com ela mesma, fazer as escolhasr, sem se flagelar pelo resultado.

Angélica dá um exemplo: “a pessoa está lavando uma roupa e quer remover aquela mancha. Demora muito tempo naquilo. Então ela para, olha para a mancha e começa a fazer escolhas. Tenho essa intenção de remover essa mancha. E vou me esforçar. Mas se a mancha não sair, vou lamentar, mas não vou me flagelar por isso.“

Outro exemplo, no trabalho revisa mil vezes um texto. E aí digita de novo. E demora muito tempo naquela atividade. Se ela errou em alguma parte, precisa aceitar isso.

Como a gente lida com o perfeccionista?

Angélica entende que é com muito amor e acolhimento. A gente pode brincar, mas não diminuir. Tem uma dor ali, um sofrimento naquela pessoa. A gente pode conversar, mostrar e perguntar: será que você precisa?

Um paciente da Angélica comentou que assistia a um filme e ficava olhando para o fio. Que valor é esse que o fio é mais importante do que o filme.  Brincar um pouco com essa limitação. O perfeccionista tem uma tendência a se afastar emocionalmente e também dos sentidos.

Um outro paciente da Angélica não sabe o que é gostoso no que ele toca. E o que é bom no que ouve. O que é que bonito no que vê. O perfeccionista está seguindo uma ordem interna, não tem conexão. Não tem contato com ele mesmo. Então não é bom criticar ou ver isso como um defeito.

Todos queremos ser aceitos. Todos nós temos um pouquinho disso. E queremos ser aceitos. Melhor do que se desgastar é ir lá conferir se aquela pessoa gosta de você.

As mulheres no geral são mais perfeccionistas do que os homens?

As mulheres que entraram nesse mundo corporativo têm uma bagagem muito grande de perfeccionismo. A mulher fêmea, no feminino, nem tanto, destaca Angélica, mas pede a opinião da Fundadora da Estilo 5.0+.

Cintia responde que no caso dela talvez seja um pouco diferente porque carrega outras características além de ser mulher, o fato de ser oriental. As pessoas acham ou achavam que o oriental é calmo, delicado e a mulher oriental, submissa. No mercado corporativo, ou quando mudava de empresa, algumas pessoas muitas vezes se surpreendiam quando ela falava ou defendia um ponto de vista de forma mais assertiva.

Cintia acredita que no mercado corporativo, as mulheres se não são, elas ainda são levadas a serem perfeccionistas. Precisam se equilibrar em muitas atividades e com os desafios profissionais, familiares, cuidar de um filho e de uma mãe.

Mas Cintia acredita também que nós mulheres estamos num momento de maturidade no mercado de trabalho que precisamos continuar batalhando, mas também têm que procurar um pouco de ajuda. Entender que não dá para ser perfeita em tudo. De sentir alguma coisa. E não esquecer dos valores femininos

Angélica concorda e exemplifica que numa situação em que uma mulher vai competir para uma vaga e só há candidatos homens, precisa se doar. Acreditar que pode, que quer e que vai dar tudo de si. Mas se não deu, se não conseguiu, não vai se destruir por isso.

O perfeccionista tem medo de olhar a sua incapacidade. Ele faz um mea culpa muito grande. Chibatadas e chibatadas.  Se a pessoa deu tudo de si e ainda assim não conseguiu, foi momentâneo e circunstancial. Alguém foi mais competente do que ela. E apresentou algo diferente.

O problema com o perfeccionista é que ele não aceita crítica.

Cintia destaca um termo em empreendedorismo que se chama síndrome da impostora. Ela vai buscar investimento, ou se candidatar a alguma coisa, e não se sente capaz. A própria pessoa se boicotando.

As mulheres conseguiram coisas que no passado não conseguiam. E hoje elas não entendem ou não acreditam. “Não sou tudo isso que você está pensando”. Elas estão se assustando com as conquistas e com o lugar de valor. Todas nós, mulheres, temos esse movimento de “tem certeza? Sou eu mesmo? ”, comenta Angélica.

Síndrome da impostora: De forma resumida, a síndrome do impostor é o nome atribuído a um sentimento de que você não é bem-sucedido porque o merece e que, em algum momento, todos irão descobrir que você não passa de uma fraude. (“The Impostor Phenomenon in High Achieving Women: Dynamics and Therapeutic Intervention”- 1978)

Sugestões finais para lidar com o perfeccionismo

Vamos saber sobre as sugestões da Angélica:

  • Fazer uma autoanálise – Olhar para si. E se perguntar: “Será que sou muito detalhista? Muito minuciosa? Seja com meu físico, com a minha personalidade, com a minha forma de atuar como mãe, como esposa, como profissional? Perceber isso pode ajudar. Em que lugar você está? O quanto isso é limitador para você e faz com que se rejeite”.
  • Estimular o seu filho a estudar e tirar nota boa porque é bom para ele e não para os pais – O questionamento deve ser: você está feliz com o seu 7? Se tirasse 10 não seria melhor? Estaria livre. Ele só tem vantagem para gastar foco e energia, se usar para ele. E que seja grandioso para ele. Porque ele já tem amor.
  • Acolher a si mesma numa situação de crítica – Olhar para aquele trabalho que acabou de entregar e recebeu críticas. Se perguntar: como que eu fiz esse trabalho? Fiz com foco e determinação? Se fez, o problema não é dela. Fez o que podia, naquele dia, naquela hora. Mas se não fez, se fez meia boca, não estava muito animada, então vai assumir a responsabilidade. A consciência traz para a responsabilidade. E a medida em que é responsável, vai aprendendo o melhor sobre ela.
  • Baixar o nível de críticas consigo e com o mundo – Não seja tão crítica; melhor usar os 5 sentidos. Segundo Angélica, a mente que está ligada às crenças é quem aprisiona a gente. Essa mente fica nos cobrando: faz melhor, você não está fazendo direito. Use os 5 sentidos. Que som você está ouvindo lá fora: um passarinho, uma ambulância. O que os seus olhos estão vendo. Uma mesa…que cheiros que está sentindo.

Se permita falhar. Acolher a sua própria criança nesse sentido. Ok se errar. Ok se fizer caca, não tem problema. Isso é amor próprio.

Vamos relaxar e aproveitar melhor a vida e as oportunidades sem entrar em estresse?

Contato da Angélica: Instagram @angelicasamarco.psicologia

Assista a entrevista com Angélica Samarco na íntegra.

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Time Estilo 5.0+

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