Positividade tóxica versus otimismo. Há limite?

Positividade tóxica versus otimismo

Cada pessoa tem a sua individualidade e nunca sabemos de fato, como outro se sente e o que de fato acontece na sua vida, independentemente do que é postado nas redes sociais.

É importante entender que cuidar do bem-estar vai muito além de ouvir conselhos de colegas ou familiares. Principalmente se nesses conselhos, você perceber a positividade tóxica.

Positividade tóxica ou otimismo? Entenda as diferenças entre os dois comportamentos

A positividade tóxica está relacionada a uma certa negação dos sentimentos negativos, uma vez que são repreendidos ou ignorados. O médico coordenador da psiquiatria do Hospital Israelita Albert Einstein, Alfredo Maluf, explica como esse comportamento é diferente da positividade saudável ou do otimismo.

Segundo ele, as emoções são como uma “zona de equilíbrio” e se dividem em positivas e negativas. É natural que algumas pessoas apresentem tendências negativas, enquanto outras buscam uma maior positividade na forma de enxergar o mundo.

“O problema é que quando há um desequilíbrio nesta zona, cria-se uma espécie de mecanismo de defesa de situações irreais, onde se tenta a todo instante eliminar a parte negativa das emoções e da vida,” comenta.

Tentar eliminar as emoções negativas da vida, como acontece na positividade tóxica, pode acabar prejudicando a saúde mental

A psiquiatra Ana Beatriz nos esclarece que a positividade tóxica é a nossa incapacidade de ver o outro mais recluso, “na dele”, de ouvir o sofrimento do outro. Deixa falar. A gente também precisa da tristeza como contraponto para curtir melhor o momento de alegria. É luz e escuridão. Precisamos sempre do contraponto, diz a psiquiatra.

Ou o criador do termo, um psicólogo dinamarquês, que a define como “um otimismo compulsivo visto principalmente em dois casos: primeiro, quando alguém não se permite ou não permite que o outro vivencie suas frustrações. Segundo, quando alguém não se permite ou não consente que o outro se prepare para um resultado negativo”.

Ana Beatriz comenta que positividade tóxica é quando você acha que ignorando todos os sentimentos ruins e experiências ruins você vai viver melhor. São aquelas pessoas que acham que jogando debaixo do tapete as suas dores, os seus sofrimentos, se eu não falar disso isso não me atinge, se não mexer nesse vespeiro isso não vai me atingir.

A gente vive numa sociedade de ostentação. A pessoas tentam fazer e possuir o que a mídia sugere. Bens materiais, aparência, aparecer sempre feliz e saltitante em grupos de amigos lindos e alegres, como se posassem de ganhadoras, vencedoras e que todos os problemas pudessem desaparecer as situações do passado e as dores seriam apagadas.

Ana Beatriz faz uma analogia com a série Matrix onde se teria que escolher entre a pílula vermelha ou a pílula azul.  Se você tomasse a pílula vermelha e seguisse todas as recomendações da sociedade e consumisse todos os bens e tratamentos, seria feliz. Ao contrário, se optasse pela pílula azul, viveria a verdade, com todas as dores, frustrações e realidade.

O sofrimento humano precisa ser vivenciado. E sentir tristeza é normal. É na tristeza que encontramos espaço para reflexão para se reconhecer, para o contato consigo mesma. Não dá para viver na festa o tempo todo. A pílula da felicidade não se sustenta.

Tudo pode ser ótimo e maravilhoso. Mas há momentos de tristeza, de reflexão que são necessários, assim como as dores. E que podemos de vez em quando deixar de ir na festa, no evento e ficar quietinha em casa.

Ninguém é completamente feliz ou infeliz. A vida, por si só, é uma colcha de retalhos de emoções e experiências, acontecimentos bons ou ruins, que interferem no nosso humor.

Somente pensar positivo não nos faz conseguir o que almejamos. São necessárias ações.

Cientificamente, embora a alegria, o otimismo e a felicidade sejam saudáveis, desejáveis e aspiracionais, não há como impedir que os momentos tristes façam parte de nossas vidas.

Claro que gostaríamos que a nossa vida fosse como um comercial de margarina, a família reunida numa linda mesa no jardim. Todos felizes e compartilhando sorrisos. Mas a mesa bonita precisa de cuidados, assim como o jardim e o estado de espírito de cada pessoa.

E acordar cedinho para podar e colocar água nas plantas, lavar a louça, preparar o café e fazer com que todos se sentem à mesa no mesmo momento pode ser um desafio cansativo.

A positividade tóxica nasce da psicologia positiva, amparada em três frentes: otimismo, gratidão e reavaliação de situações negativas. Está longe de ser má fé, pelo contrário, mas, infelizmente, leva ao impedimento da reação emocional esperada, como se invalidasse a dor, que existe, ainda que infelizmente e que precisa ser vivida para ser elaborada psicologicamente. Quando a dor deixa de ser vivida no momento de seu surgimento, provavelmente ela virá com maior intensidade mais adiante.

Talvez, pelos momentos difíceis do mundo atual, a positividade tóxica passou a fazer parte da sociedade moderna como movimento de defesa contra as adversidades da vida, com a necessidade imperiosa de manter apenas o pensamento positivo, mesmo que a situação esteja trafegando em sentido contrário, como reforço da realidade positiva e negação da realidade negativa; como um estímulo ainda que improvável aos soldados no campo de batalha, que somos todos nós.

A positividade tóxica trava uma batalha constante contra a tristeza ou qualquer outro sentimento negativo, dando vida apenas à felicidade, praticamente impondo a todo indivíduo a obrigatoriedade do pensamento positivo e de desfrutar de uma vida feliz, independente das intempéries encontradas no caminho, que não devem ser motivos para pensar ou agir negativamente ou com algum grau de sofrimento e tristeza.

O otimismo, por outro lado, segundo o psiquiatra do Einstein busca uma forma de enxergar os pontos positivos da vida, mas sem ignorar os negativos. Quando utilizado devidamente, ajuda, sim, a termos um olhar mais leve da vida e das atividades cotidianas. Mas situações desafiadoras no trabalho ou nos relacionamentos podem gerar certa insegurança. E isso é normal. Acreditar no seu potencial e encarar o desafio é uma forma de utilizar o otimismo a seu favor.

O problema está no momento em que a positividade é imposta excessivamente como o único caminho para resolução de problemas.

Equilibrar a positividade, evitando que ela se torne tóxica é importante para a harmonia psíquica. Isso deve ser feito permitindo-nos viver a alegria e a tristeza e, quando isso for difícil, procurar a ajuda de um profissional de saúde mental para falar de nossos sentimentos. O equilíbrio emocional, por si só, nos permite ver a vida com um olhar mais positivo e sem toxicidade.

Pesquisamos alguns vídeos sobre Positividade tóxica. Acesse:

Positividade Tóxica O que é e como ela pode sabotar seus planos em 2023|Com você Psicologia – 11:26

Positividade tóxica | Ana Beatriz- PodPeople Ana Beatriz Barbosa- 06:26

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Fontes:

https://primeirapagina.com.br/saude/positividade-toxica-onde-e-o-limite/#:~:text=Quando%20negamos%20veementemente%20a%20tristeza,pode%20afetar%20a%20sa%C3%BAde%20mental&text=H%C3%A1%20pessoas%20que%20naturalmente%20parecem,parece%20n%C3%A3o%20conhecer%20a%20felicidade.               https://www.gupy.io/blog-do-emprego/positividade-toxica#:~:text=A%20positividade%20t%C3%B3xica%20nada%20mais,consequentemente%2C%20afetar%20sua%20sa%C3%BAde%20mental. https://www.estadao.com.br/saude/positividade-toxica-ou-otimismo-entenda-as-diferencas-entre-os-dois-comportamentos/ https://revistagalileu.globo.com/saude/noticia/2023/10/positividade-toxica-x-otimismo-ignorar-as-emocoes-ou-buscar-equilibrio-entre-elas.ghtml

Cintia Yamamoto Ruggiero

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