Vamos falar sobre a coragem de mudar o rumo da nossa vida?

O ano novo pode trazer momentos de reflexão sobre nossas vidas e, para algumas pessoas, a necessidade de mudança sobre algo que incomoda pode ser uma delas. Mas nem sempre temos a coragem necessária para enfrentar decisões e, muito menos, iniciar o processo de mudança em si.

Pesquisa recente realizada nos Estados Unidos, mostrou que aqueles que aceitam fazer as mudanças acabam sendo mais felizes.

Para conversar sobre isso, Cintia Yamamoto, fundadora da Estilo 5.0+ convidou a psicóloga Maria Ângela Rossetto para um bate papo sobre coragem ou falta de coragem para mudar o rumo dos nossos caminhos.

Maria Ângela Rossetto é Psicóloga Clínica há 35 anos, com Mestrado na Escola Paulista de Medicina em Distúrbios da Comunicação. Professora Titular há 30 anos das cadeiras de Psicopatologia, Psicologia do Desenvolvimento Humano e Método de Rorschach na Unfmu e atualmente na Unifesp. Perita nomeada na Vara da Família do Fórum de Santo Amaro e Avaliadora de Cursos de Psicologia pelo INEP e com vários Trabalhos publicados em Congressos Nacionais e Internacionais.

Entendendo o receio da mudança pelas pessoas

A rapidez das mudanças e o aumento da longevidade traz uma combinação que faz com que as pessoas maduras passem por várias fases em suas vidas pessoais e profissionais. Filhos que crescem, uma situação profissional instável, desafios que vem naturalmente com o envelhecimento e, de repente, um cenário muda e pode trazer com ele um sentimento de desconforto, ou até mesmo tristeza.

No entanto, muitas pessoas têm esse receio em mudar. Muitas vezes nem sabem onde mudar. Será que as pessoas entendem que não estão felizes e que precisariam fazer alguma mudança?

Maria Ângela explica que nem sempre elas entendem, há uma relutância muitas vezes por mudar. Ou fogem, não assumem que há um problema. Há um medo de sair da zona conforto, o que não é familiar, mas a vida muda, é cheia de ciclos. Vamos mudando. Cada dia uma mudança. A mãe que eu fui quando minhas filhas eram pequenas, não é mais aquele tipo de mãe. Agora é mãe de filhas adultas. A gente tem que mudar. Tem que fazer ajustes. Estamos em constante mudança. Basta ver a história. Como o papel da mulher mudou durante a história. É só procurar a mudança cultural do país que a gente vê que as mudanças sempre ocorreram e vão continuar acontecendo.

Maria Ângela comenta que a psicologia trabalha basicamente sobre as questões de mudança de vida.  O paciente chega com insatisfações com o modo de ser, no modo de agir e de pensar. E vai tentar mudar para uma atitude mais madura.

A capacidade de se adaptar a uma situação de maneira rápida e assertiva, traduz a nossa saúde mental. E a grande questão do ser humano que anda num nível de ansiedade bastante elevado é porque a vida é imprevisível. Há fatos imprevisíveis. Há fatos que posso controlar e outros que não posso fazer nada. Não posso controlar.

Esse medo, essa ansiedade de que algo ocorra, desestabiliza o indivíduo e nós temos que encarar, saber separar o que posso fazer do que não dá pra fazer e me adaptar a essa situação da melhor forma possível quando não dá para fazer nada.

Não adianta ficar chorando, gritando, quando não posso fazer nada. Já faliu. E esse é o nosso mal. O mal do século, complementa Maria Ângela. Ela diz que vê muito esta situação entre os jovens. Eles lidam pouco com a frustração. Eles querem certeza de tudo e nem tudo vai te dar certeza.

Uma pessoa com medo de casar porque não sabe se vai dar certo. Ninguém sabe. Se você não arriscar, nunca vai saber.

Então a psicologia fala muito isso. A sabedoria de você entender que você pode mudar e o que você não pode mudar. Ela cita uma frase do filósofo Sartre: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”  (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre). Não fica chorando; vamos lá. Toca.

Como realizar que uma mudança é necessária

Maria Ângela comenta que geralmente uma pessoa que se vê numa situação infeliz, mas não consegue entender ou promover uma mudança, vai sentir a necessidade somente quando ela chega no extremo da exaustão emocional. Aí é quando ocorre por exemplo, com a síndrome de Burnout que ela acaba desenvolvendo, ou o transtorno de pânico.

Infelizmente quando a pessoa não toma uma providência a respeito de algo que a deixa muito infeliz, esta situação vai provocar um sintoma. A pessoa está indo trabalhar, ela trabalha muito, está insatisfeita com isso e não promove nenhuma mudança. Então o corpo vai falar, a mente vai falar.

A mudança desestabiliza a vida da gente até que a gente coloque as coisas no lugar.

E o autoconhecimento é fundamental. Se autoconhecer, se perguntar mesmo: “o que eu penso é o que eu sinto, o que eu sinto é o que eu quero, o que eu quero é o que eu faço?  Se não faço, porque não faço? É esse encontro íntimo que vai promover as maiores mudanças.

Analisar o que que acontece. Estou sendo protagonista da minha vida? Ou quem está sendo? Mesmo não gostando, porque sempre reajo assim? São questionamentos que você vai ter que fazer para realmente iniciar uma mudança. E às vezes não é confortável. Nunca é. Até a gente elaborar leva tempo.” destaca Maria Ângela

A importância do autoconhecimento no processo de mudança de rumo

A Cintia comenta sobre o que a Ângela falou sobre o autoconhecimento. Criar coragem e começar pelo autoconhecimento que é o início de tudo. Essa questão do autoconhecimento não necessariamente para esse público da Estilo 5.0+. Mulher com mais de 50, de 60, não tem muita a ver com a idade, ou não? A mulher mais madura tem mais dificuldade ou menos, para promover uma mudança?

Maria Ângela avalia que ter coragem e autoconhecimento para promover uma mudança por pessoas maduras pode ser mais fácil ou mais difícil dependendo de alguns fatores.

Depende se ela é uma pessoa que começou a vida tendo responsabilidades logo cedo. Neste caso, ela entende que a pessoa sempre vai procurar a mudança. Normalmente são mais ativas, mais dinâmicas, são pessoas que não vão se incomodar com o julgamento do outro. Não julgam, nem vão julgar o comportamento do outro. São pessoas assertivas. Se me faz mal, porque eu sigo. E principalmente, quando a pessoa sabe se desvincular daquilo que está sendo tóxico na sua vida. Principalmente de pessoas. Não está fazendo bem, mas continua. “Tenho medo de ficar sozinha. Você já está sozinha. Se você chegou nesse ponto, já está sozinha”.

“Com a idade a gente vai adquirindo maturidade para falar sim, não, isso eu quero, isso eu não quero. Mas tem aquelas mulheres mais dependentes que têm medo de mudar. E começam: mas na minha idade, agora resta me conformar. Ou, na minha idade vou aprender inglês, na minha idade vou começar a dançar. A pessoa que é mais dinâmica ela vai, ela se permite. Mas as mais dependentes se acomodam. Você pode ver até no estilo. Como elas se vestem, no estilo do cabelo. Elas mantêm aquele cabelão comprido até a cintura que tinham na década de 70. E o mesmo estilo de se vestir. Não se sentem satisfeitas, mas não mudam.”

Maria Ângela detalha que, inclusive, o processo de autoconhecimento pode ser feito com terapia, mas a pessoa também pode fazer alguns exercícios sozinha. Ela pode conversar com ela mesma todos os dias, interiorizar, se questionar, ela vai conseguir mudar, vai conseguir compreender. E a pessoa mais velha também.

A importância de definir metas factíveis e ter coragem

Maria Ângela diz que é importante que a pessoa não procure desculpas para não mudar. Ela reforça “Não existe esse negócio de “sempre quis pintar e nunca aprendi”, vai pintar. Vai fazer alguma coisa. Aquelas que não querem mudar, aí começam: a tela é cara, a tinta é cara, começam arrumar desculpas e objeções.

A coragem não é ausência de medo. Você sabe que para mudar, você vai sentir medo. Que é a ansiedade. Mas tem que ser persistente.

Você tem que ter propostas de mudanças cabíveis, reais. Não adianta, por exemplo, definir que vai emagrecer 15kg em 1 mês. Não vai emagrecer e se frustrar ou vai ficar doente.

Maria Ângela dá uma série de sugestões

  • Faça propostas viáveis. Divida as metas em etapas. E se policie o tempo todo para estar sempre fazendo. Se nunca fez academia e começar tentando ir todo dia fazer exercício por duas horas, provavelmente vai fazer só na primeira semana. Vai se cansar. Vai achar chato. Melhor começar com 5 minutos na esteira, na próxima semana, meia hora e assim por diante. Trace as metas possíveis.
  • As exigências e as derrotas têm que ser policiadas. A gente sabe que no início vai fracassar. Retome a situação. Estabeleça as metas, mas que critérios vai utilizar.
  • Você precisa de coragem, mas saiba que vai ter medo, vai ficar ansiosa, vai ter que arrumar recursos para lidar com essa ansiedade.
  • Não dá pra pensar que vai sentir prazer só no fim, quando atingir a meta. Nós temos que pensar em ser feliz no percurso também com o que está conseguindo. Celebrar as vitórias de cada etapa.
  • Analisar as derrotas e os fracassos. Entender porque errou e o que precisa fazer de diferente. Isso vai dando amadurecimento e autoconfiança.
  • A gente precisa realmente aguentar a ansiedade e persistir. Persistir é ter coragem.

Mudança com responsabilidade

Maria Ângela comenta que é muito comum que as pessoas façam uma série de promessas no final do ano para o ano seguinte, mas vão adiando como o “Vou começar o regime só na 2ª. Feira. Então começa no domingo. É o dia que você estará em casa pode ficar mais mal humorada então começa a dieta e quebra o ciclo de começar na segunda.”

Ela diz que também escuta muito as pessoas dizerem que a partir do ano que vem vou começar a fazer aquilo. Mas esse não é o caminho. O caminho é vou mudar naquilo que me incomoda. Eu quero essa coisa então vou lutar por isso. Dentro de uma realidade, com responsabilidade.

Não é algo como “vou viver minha vida agora, que se danem os meus pais, os meus filhos.” Não é por aí. As consequências virão, tem que avaliar as consequências. Como num regime, só vou comer verdura. Não é por aí, você precisa de mais coisas.

Muda, mas com responsabilidade.

A minha mudança vai provocar mudanças no meu entorno. Precisa estar consciente de que terá que lidar com essas questões que irão aparecer. Leia um livro. Um professor certa vez falou. Depois que você lê um livro, você já é outra pessoa. As ideias mudam.  Você passa a ver as coisas de um outro ângulo. Se você lê um romance, reflete sobre aquela história: também já vivi algo semelhante e porque que agora fico me afastando. É muito importante alimentar o seu cérebro para que ele mude.

Mesmo se sentindo inadequada, vai aprender a fazer tal coisa, faça o que você quer fazer. Há tempo para tudo. Claro, desde dentro dos limites e sem prejudicar ninguém.

Quando você faz alguma coisa diferente também conhece pessoas diferentes.  Quando você conhece pessoas novas, também conhece outros estilos de vida, o que eles pensam, como resolvem a vida e isso também te ilumina. E você também pensa não é só com a gente, eles também passam por isso.

Última dica da Maria Ângela para um processo de mudança de rumo de vida: “Seja honesta consigo mesma. Tira uma horinha por dia para pensar em você. Mas pensar, isto está bom? Gostei de tal notícia? Eles vão fazer isso, eu gostei? Mas tenho que gostar? Refletir a cada dia sobre a sua evolução ou involução. Falar com você mesma. É como falar com seu Deus interior. Todas as respostas estão dentro de você. Fazer um relaxamento, uma meditação. Vai fazer bem para você.

Também há um certo humor durante o aprendizado. Vá, vai viver. Quando você vai rir de você mesma, ninguém vai rir de você. Porque você já fez isso! Encarar a vida com humor!!”

Contato da Maria Ângela Rossetto através do e-mail mac_rossetto@hotmail.com.

Assista o bate-papo integral da Cintia Yamamoto com Maria Ângela Rossetto:

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Time Estilo 5.0+

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